terça-feira, 21 de julho de 2009

Sonhos

Sonhos são sempre sonhos,
Mesmo que iguais continuam sendo
Sonhos, sonhos vistos pelos nossos olhos,
Sonhos trazidos pelo vento,
Sonhos. Sonhos que recordamos,
E quão belo é o seu recordar,
Sonhos que esquecemos,
E como nos custa deles livrar.
Sonhar é imaginar mundos,
Sonhar é igualmente viver,
Tantos sonhos, tão profundos
Que só terminam ao amanhecer.
Podemos também sonhar e não nos lembrar,
Por vezes sonhar acordados,
Por isso ao homem só resta acreditar
Em todos os sonhos dourados.
Porque os dourados são os mais felizes,
São eles que voam mais alto,
Ainda assim há sonhos de todas as cores,
E todos eles, de todas as cores...

... Eu sinto.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Carta de Henrique VIII a Ana Bolena

"Para Ana Bolena

Minha amante e minha amiga,
Eu e o meu coração ambos nos rendemos às vossas mãos e suplicamos ser recomendados à vossa vontade, e que pela ausência, a vossa afeição não diminua por nós, pois tal só aumentava a nossa dor, o que seria uma grande pena, uma vez que a ausência é suficiente, e maior do que alguma vez a poderia sentir. Isto traz à minha mente um facto da astronomia, que é, quanto mais afastados estão os pólos do Sol, apesar disso, mais abrasador é o calor. Assim é o nosso amor; a ausência distancia-nos, contudo o fervor aumenta - pelo menos da minha parte. Espero o mesmo de si, assegurando-lhe que no meu caso a angústia da ausência é tão grande que seria intolerável se não fosse a firme esperança que tenho na vossa indissolúvel afeição em relação a mim. Para vos lembrar disso, e por não estar presente diante vós, envio-vos a coisa o mais aproximada possível, quer dizer, o meu retrato, e o conjunto, que já conhece, de pulseiras, desejando-me no seu lugar quando as usar. Pela mão do
Vosso criado e amigo,
H.R."

domingo, 19 de julho de 2009

James Morrison em Portugal

James Morrison já está confirmado no "Festival dos Oceanos". O concerto tem data marcada para o próximo dia 1 de Agosto, nos Jardins de Belém, em Lisboa.

Aqui fica a sugestão para quem gosta, tal como eu, da sua música.

As palavras de Sócrates

“E assim, convicta de que em nada deve opor-se a esta libertação, a alma do verdadeiro filósofo abstém-se, na medida das suas forças, de tudo o que sejam prazeres, desejos, sofrimentos [e receios]: é que se dá conta de que, quando os homens são excessivamente afectados pelo prazer, pelo receio, [pelo sofrimento] ou pelas paixões, o mal que daí advém supera ainda o que qualquer um possa imaginar, a doença, por exemplo, ou a ruína que as paixões instigam: porque o pior deles todos, o mal extremo, esse, sofrem-
-nos eles sem se dar conta…” (Platão, Fédon, 83 c)

terça-feira, 14 de julho de 2009

A Experiência do Mundo II (A Linguagem)

Vamos agora verificar onde se encaixa a linguagem nas três modalidades da experiência humana atrás referidas. Desde que o homem se tornou homem, que ganhou a possibilidade de inventar e representar o mundo através da linguagem, atribuindo um significado às coisas. "Tanto a apreensão dos sinais exteriores como a representação inteligível que deles construímos é feita na linguagem”. E “o mundo intersubjectivo, estruturado pela linguagem, co-estrutura o mundo subjectivo de cada um”. É por isso que os processos de comunicação determinam a construção da identidade pessoal. A linguagem institui o mundo humano. Heidegger havia dito que se deu uma abertura do homem ao mundo, quando este se aborreceu e despertou do aturdimento animal, e foi mesmo a partir daí que o homem começou sempre a falar, acordado ou a sonhar. Remontando à Pré-História, nas suas pinturas rupestres o homem já falava. Através das inscrições das suas vivências nas rochas das cavernas, mostrava ser já possuidor de uma linguagem, detentor da capacidade de formar mundo, o seu mundo. Sem se aperceber, já “fabricava” características que, mais tarde, a escrita, uma outra forma de linguagem, adoptou como suas: o facto de essas pinturas, tal como as escrituras, se perpetuarem no tempo. Na obra “Fedro”, de Platão, a escrita é-nos apresentada segundo dois pontos de vista: o de Thoth, seu inventor, e o de Tamuz, detentor do poder. O primeiro dizia que a escrita é um remédio para a memória e um caminho para a sabedoria; e o segundo refutou a ideia do deus egípcio, afirmando que ela era sim um remédio para a remomeração, pois as pessoas iriam deixar de exercitar a memória. Além disso, a escrita é exterior ao logos, ao pensamento, e por isso esquece-se que o mais importante é a memória autêntica – a da Alma. Chegamos assim à conclusão que, na experiência, as formas que os humanos escolhem para comunicar vão sendo mais diversas há medida que o tempo passa: dantes, o homem comunicava com as já referidas pinturas rupestres; depois, passou a fazê-lo através da oralidade, em que, segundo os gregos, “o sopro da voz era o prolongamento da Alma” (Epistemé – experiência tradicional); finalmente, na modernidade, apareceu a escrita, uma tekné, ou seja, uma técnica exterior. Esta foi uma forma de os homens conseguirem falar da História e hoje é mesmo a nossa própria existência, pois sem documentos escritos que provem que somos cidadãos, tornamo-nos num "nada". Ainda assim, a escrita acarreta consigo uma morte do autor, pois é irresponsável, não responde por si. Não deixa de ser, no entanto, mais uma forma de as pessoas comunicarem. Com ela, passou mesmo a haver uma “mobilidade (infinita ou humanamente infinita) do dizer, do desdizer e do redizer.
Para terminar, “experiência e linguagem estão sempre ligadas, pois o plano do dizer é o único capaz de acompanhar o movimento das intensidades, a multiplicidade dos afectos, dos perceptos e dos conceitos incessantemente produtores de diferença. É no sentir e no pensar que a linguagem faz a gestação diferenciadora da experiência.”

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A Experiência do Mundo

A experiência liga-se ao homem e ao mundo. O ser humano experiencia o mundo quando “recebe impressões desordenadas e heterogéneas” e, com elas, tem a possibilidade de “construir uma ordem”. Desde que aprendeu relacionar-se com o mundo em que habita que o faz, no entanto, não sempre da mesma forma. Por isso mesmo, podemos dividir a experiência humana em três modalidades: a experiência originária, a experiência tradicional e a experiência moderna. Entre as duas primeiras e a última podemos estabelecer uma diferença muito importante: é que tanto na originária como na tradicional, o homem relacionava-se com o mundo naturalmente, não pensava antes de fazer as coisas. Por exemplo, os artesãos tradicionais fabricavam os artefactos simplesmente porque sabiam que eles eram funcionais. Não pensavam em porque é que, de facto, o eram. Já na experiência moderna, os homens pensam antes de agir.
Para perceber esta e outras diferenças que marcam estas experiências, tomaremos como exemplos alguns textos. Começando pela “Torre de Babel”, é-nos dito que havia um conjunto de homens, que viviam no mesmo lugar e eram possuidores da mesma linguagem e que, tomando como objectivo o céu, quiseram edificar uma torre para lá conseguirem chegar (isto era, sem dúvida, um atentado à supremacia divina e, por isso, um indício de modernidade). No entanto, Deus impedi-os de a construírem, e fê-lo espalhando-os pelo mundo e tornando as suas línguas diferenciadas. Dificultou-lhes, portanto, a comunicação. Então, sem se aperceberam, aqueles homens só conseguiam alcançar o seu objectivo se conseguissem comunicar uns com os outros (está então aqui presente a ideia de que quando há uma comunicação incorrecta entre os homens, surgem problemas e estes não conseguem chegar a lado nenhum).
Em “Prometeu Agrilhoado”, também há um poder divino posto em causa mas, desta vez, é o de Zeus. Prometeu concede aos homens, algo que só deveria pertencer ao “rei dos deuses”, pois permitia-lhes serem detentores de poderes considerados apenas dignos de quem morava no céu. O fogo permitiu ao Homem aprender a cozinhar, a aquecer-se, a proteger-se, a iluminar-se… Esse poder considerado divino é posto na mão de seres humanos que, com isso, começaram a progredir, e por isso mesmo também há aqui um indício de modernidade: valores tradicionais são postos em causa.
Outro dos textos onde a ideia de modernidade já está presente é em "Antígona", uma deusa que, revoltada com o facto de um dos seus irmãos não poder ser sepultado por ordem de quem detinha o poder, tem a ousadia de enfrentar a lei dos homens e, tomando como partido o direito de sangue, a chamada "lei dos deuses", dá sepultura ao seu parente. Mas aqui, mais do que haver um vestígio moderno (uma mulher ir contra um homem, ainda para mais detentor do poder), há também um valor tradicional: o de respeitar a vontade dos deuses.
Com isto, conseguimos perceber que apesar de haver três experiências, a seguinte mais evoluída do que a anterior, naturalmente, não se dá uma ruptura total entre aquela que acaba e a que começa. Isto porque, tal como vimos, a experiência tradicional acarreta consigo alguns vestígios da originária e, por sua vez, a moderna tem vestígios da originária e da moderna que desde sempre permaneceram imutáveis, apesar de mais escondidos.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O Anjo

O Anjo cantou-me uma doce balada ao ouvido. Era sempre assim que ele me acordava, de madrugada, altura em que a minha casa estava embebida num silêncio profundo. Ele dizia-me para eu falar baixinho, e eu falava. Explicou-me que a sua voz só eu ouvia, mas que a minha todos podiam escutar. Enquanto a melodia do seu canto penetrava nos meus ouvidos, eu ficava a olhar para ele, pensando como era bonito. Aí o Anjo olhava para mim, sorrindo de uma maneira ímpar. Sempre que eu soltava uma lágrima, ele limpava-ma com aquelas mãos protectoras cujo toque provocava-me calafrios. Nunca me perguntava o que eu tinha, desconfio que já sabia. Visitava-me todas as noites, entrava sorrateiramente pela janela e sentava-se a meu lado. As suas palavras eram sempre delicadas e verdadeiras. Formavam uma poesia repleta de sentimentos amalgamados, que por vezes eu não entendia, mas não por isso achava aquelas frases menos belas.
Certa noite, o Anjo pareceu-me triste e eu perguntei-lhe o motivo dessa sua tristeza. Ele nunca chorava, os anjos não choram, mas a sua vontade era tanta que os seus olhos tornaram-se transparentes. Ao olhá-los, sentia que estava a ver a minha imagem reflectida num lago. Respondeu-me que aquela seria a última noite em que iria estar comigo, pois os outros anjos tinham descoberto que ele andava a sair do céu só para me ver. Compreendi, mas pedi-lhe que não se esquecesse de mim. Duas horas depois, adormeci num sono profundo, vencida pelo cansaço e pela angústia da despedida. O Anjo ficou ali até que eu fechasse os olhos e começasse a sonhar. Nessa noite, o meu sonho foi um tanto estranho… Encontrava-me num deserto, perdida, sozinha, sem saber que rumo tomar. Andei horas e horas a fio, à minha volta não existia mais nada, apenas aquela areia infindável e um calor abrasador. Desmaiei, despertando instantes depois com uma voz tão melódica como o som da chuva a bater na janelas, numa noite de Inverno. Eu conhecia aquela voz! Levantei-me e vi à minha frente o Anjo. Era ele. O seu olhar, os seus cabelos, as suas mãos. Estava no cimo de uma duna e eu comecei a correr na sua direcção... Só que ele desapareceu. No entanto, eu sabia que seria aquele o caminho que me levaria à vida. Ele tinha-mo mostrado. No deserto, tinha sido apenas uma miragem mas, no meu coração, é tudo o que de real existe.
Ao acordar, de manhã, deparei-me com uma rosa vermelha na minha mesa-de-cabeceira. Ela falou-me tal e qual como ele falava, e eu percebi que aquela não seria a última vez que nos veríamos. Um dia, ficaríamos juntos no céu. Fosse lá o que ele fosse.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Vivo à Margem do Mundo

Vivo à margem do Mundo,
Recôndito canto de esperança,
Onde o canto da gente é mudo,
Voz que só lembra desgraça.

A errante dança dos dias
Embalada na efemeridade da Vida,
Solta os gritos das noites frias,
Pedindo que o Sol volte e tape a Ferida.

Amargo rasto da maldade humana
Na voz tarda em permanecer,
A pensar não mais se apaga a chama
Do fogo que arde e faz doer.


terça-feira, 7 de julho de 2009

A Certeza

A certeza surge nos lugares mais inesperados e nos segundos mais longos, pois o momento em que descobrimos aquilo que realmente somos não é menos que a eternidade.

Acordei com o Sol a bater-me na cara, pensando que aquele seria um dia igual a qualquer outro. Era sempre a tristeza que me acordava e, ao deitar-me, ela adormecia a meu lado, prometendo estar ali na manhã seguinte. Por isso, as minhas oito horas de sono diárias eram talvez as melhores da minha vida, pois nelas não precisava de me esconder. Os meus sonhos preenchiam-me, porque eram eles a minha única realidade.
Levantei-me, desejando, como sempre, não levantar. Olhei-me ao espelho e o ódio que sentia por mim era profundo e avassalador. Apetecia-me destruir aquela imagem, vê-la cair desfeita em cacos. No fundo, era assim que eu já me encontrava.
Uma sessão de estudo de Economia (imagine-se!) esperava-me naquele dia. Peguei nos livros e dirige-me à Biblioteca Municipal. Quando lá cheguei, encontrei uma ex-colega de turma e um amigo de longa data. Ambos olharam-me nos olhos e sentiram toda a mágoa que me inundava. “Se não estás bem, muda, tens 18 anos, não queiras ter 50!”. Aquelas palavras queimaram-me a garganta, mal conseguia respirar. “Não ligues ao que os outros te dizem, tu é que importas, assim como aquilo que queres”. Talvez. “Toma uma atitude! Sê feliz!” Nisto, sentei-me numa das mesas, prestes a explodir. O meu amigo sentou-se diante de mim e colocou-me à frente um livro. E foi aí que o mundo parou. O livro intitulava-se “Filosofia – do ser e do ensinar”. Os meus olhos encheram-se de lágrimas e uma certeza absoluta invadiu o meu corpo e a minha alma. Soube naquele instante que nunca mais na minha vida esqueceria aquele título, pois fora ele que me fez perceber que, na vida tão breve, só o que nos faz chorar de alegria importa. Havia chegado a hora de ser louca, de lutar e conquistar. Era esta loucura que me trazia o mundo de volta, o mundo do qual muitos fogem, por medo de enfrentar os obstáculos que todos os dias atropelam os sonhos. Mas é nos seres sonhadores que reside a esperança de que, um dia, tudo vai melhorar.

Alguns meses passaram desde a minha decisão. O curso de Filosofia espera-me em Braga e eu não vou fugir, pois é esta certeza que eterniza o meu ser.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

"A Lista de Shindler"

A minha paixão pelo cinema é cada vez maior. Vejo todo o tipo de filmes, mas não escondo a minha preferência pelo género dramático. Recentemente, vi uma obra-prima que me fez dizer, no final, “Uau! Talvez seja este o filme da minha vida.” Sinceramente, não percebo como é que consegui passar tanto tempo sem ir à Biblioteca Municipal, pegar nele e trazê-lo comigo debaixo do braço. Ao ler alguns comentários na Internet sobre o mesmo, destaco um que me chamou a atenção: “Ninguém deve morrer sem vê-lo”. Concordo e passo a explicar porquê. A Lista de Shindler é um marco de Steven Spielberg, de 1993, vencedor de 7 Óscares da Academia de Hollywood (incluindo o de melhor filme), baseado em factos reais. Retrata a história do empresário alemão Oskar Shindler, que salvou milhares de judeus por empregá-los na sua fábrica, evitando assim que estes sofressem com os horrores do Holocausto. Este filme é, por isso, uma lição de vida, que nos faz pensar sobre até onde um ser humano é capaz de ir. São 195 minutos de pura aprendizagem. Aqui fica a sugestão.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

A Palavra

“A palavra é uma grande dominadora que realiza obras divinas, pois pode fazer acabar o medo e suprimir as dores, infundir a alegria e inspirar a piedade… O discurso, persuadindo a alma, constrange-a, convencida, a ter fé nas palavras e a consentir os factos… A persuasão, unida à palavra, impressiona a alma do modo que quiser. O poder do discurso relativamente à disposição tem a mesma relação que os remédios relativamente à natureza do corpo. Com efeito, tal como os diferentes remédios expulsam do corpo de cada um diferentes humores, alguns fazem acabar o mal, outros a vida…”
in Górgias, "Elogio de Helena"