quarta-feira, 18 de maio de 2011

"A Trégua", de Mario Benedetti


«A Trégua é considerado o romance emblemático da literatura sul-americana e uma das histórias de amor mais comoventes da literatura moderna.
Em Buenos Aires, dois amantes vivem um amor que transgride todas as convenções sociais.
Martín Santomé é viúvo há mais de vinte anos e praticamente criou os filhos sozinho. Confidencia ao seu diário que se sente cansado de um quotidiano sedentário no escritório e que de dia para dia agravam-se os conflitos geracionais com os seus filhos. O seu único alento é a reforma, para a qual faltam seis meses e vinte e oito dias.
Tudo muda quando surge uma nova colega, Laura Avellaneda, num escritório contíguo ao seu (...). Superando todos os convencionalismos e transgredindo as circunstâncias impostas pela diferença de idades, os dois amantes revitalizam sentimentos e enfrentam os riscos dessa relação amorosa: Martín e Laura vivem profundamente o seu momento no qual se inscreve o sentido da eternidade.
Romance emblemático dos anos 60, que continua vivo e a ser um testemunho psicológico e social comovente.»

Para mais informações consultar o site: http://www.wook.pt/ficha/a-tregua/a/id/192322.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Entre o peso e o espanto

Quanto mais longe está a infância, mais estável se revela. Se em criança somos plenos e inocentes, na fase adulta somos visitados pela incompletude. O agora é o pertencer aqui e a lugar nenhum. A responsabilidade acresce e causa nós no estômago. Estes só se desfazem quando surge um novo nó que substitui o anterior.

Em pequenos, o tempo é tempo. Aquando o crescimento, o tempo já não é só tempo. É oportunidade ou desperdício, vitalidade ou preguiça, conquista ou derrota, plenitude (quase inatingível) ou vazio (facilmente atingível). O tempo é isso tudo. Dizer que é uma conexão de movimentos plurais não chega. Ainda que só esta descrição já cause um certo sufoco. A vida pesa. Por isso, como alguém me disse, certo dia, a melhor atitude a ter é… fazer com que não pese muito!

Se o tempo sufoca, o espaço aprisiona. Por isso, confesso que me contento mais em ser este ser errante que sou. Andar sempre cá e lá. Se fosse prisioneira de um só lugar (mesmo que esse lugar fosse junto ao mar), acabaria vivendo mesmitudes e não espantitudes. Prefiro a surpresa.

Contento-me, por agora, com estas viagens entre o Norte e o Sul, neste autocarro (por vezes, pequeno demais para tanta gente – será que também eles são seres errantes?). Satisfaz-me dizer “adeus” àquela grande mancha verde e dourada que abandono temporariamente (outra vez o tempo!) e dizer “olá” à confusa e, ao mesmo tempo, tão bela capital. No regresso, alegra-me sempre e de forma distinta ver o Tejo afastar-se no horizonte para, poucas horas depois, abraçar a paisagem e a calma do lugar que escolhi para viver esta fase da minha vida. Sinto saudades da infância, mas também anseio pelo futuro, cada vez mais próximo. O amanhã trará consigo um tempo mais sufocante; tudo o que peço é um espaço que me continue a arregalar os olhos de espanto.

A vida pesa. Mas também é espantosa.


Sara Gonçalves

domingo, 1 de maio de 2011

Sol

O Sol invade meu espaço

Até então embrenhado na escuridão

De uma tristeza incomensurável.


Acarreta o Sol a pequenez do mundo,

Mundo tão pequeno que o olhar quase perde,

Mundo tão pequeno que a imensidão

Do Universo deglute.


É essa mesma pequenez que me conforta

Quando penso na distância que nos separa,

É essa mesma pequenez que me acorda

Desse desassossego que, por tanto tempo,

Sugou minhas energias.


Percebo agora que tal distância é ínfima

E facilmente ultrapassável,

Pois se fosse colossal e inabalável

Não estaríamos, certamente,

Debaixo de um mesmo Sol.


Sara Gonçalves,

Braga, 1 de Maio de 2011.