domingo, 21 de agosto de 2011

O que interessa são os sonhos

«Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.»

William Shakespeare

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Até os Livros Envelhecem

Há uns dias, ocorreu-me plastificar os meus livros. Começo a ficar com uma colecção algo significativa e tenho a certeza que se a ideia me surgisse apenas daqui a uns meses o trabalho iria ser superior. Confesso que aproveito todas as ofertas da imprensa (ao preço que os jornais e as revistas estão, não sei se os volumes que se escondem no seu interior poderão realmente ser chamados de “oferta”, mas isso é outra questão), nunca resisto a uma boa feira do livro e, quando posso, acumulo mais uns pontos na Bertrand (talvez para o ano me ofereçam outra viagem à Turquia, a Istambul, quiçá!). Portanto, a minha pequena biblioteca vai crescendo cada vez mais, não diria de dia para dia, mas, pelo menos, de mês para mês.

Plastificar seria, de facto, uma excelente ideia. Não me iria sair, por certo, nada barato, mas seria uma forma de proteger os meus meninos e evitar possíveis acidentes (tenho um gato e descobri que ele tem um certo fascínio por levar à boca tudo o que lhe aparece à frente). Contudo, dei por mim a pensar na seguinte questão: será que envoltos em plástico, os meus livros teriam o mesmo encanto?

A resposta é um gigantesco «não». Definitivamente, N-Ã-O!

Tenho um professor que diz ter em casa milhares de livros. Eu acredito. Quando algum estudante ou colega de profissão necessita de uma obra, recorre-lhe de imediato. Por isso, é habitual ver o nosso docente entrar na sala de aula com a sua pasta numa das mãos e com dois ou três livros na outra (para emprestar a alguém, precisamente). Recordo-me de admirar aquelas capas velhas, quase soltas, talvez até com algum pó escondido. Uma ou outra vez, o meu professor abre um dos livros e aquele cheiro a sabedoria penetra as minhas narinas. Enche-se-me o peito de aconchego. Que sensação maravilhosa!

Não, os livros não foram feitos para ser plastificados, de todo. Eles apenas querem ser lidos, relidos, tocados inúmeras vezes pelas mesmas mãos, por mãos diferentes, cheirados, acariciados, amados. Querem ser eles mesmos. Anseiam respirar o mundo. São como nós. No fundo, apenas desejam a liberdade e, como bem sabeis, a liberdade é finita. Se todo o ser humano envelhece, por que razão haveria um livro de não envelhecer?

Quero construir uma biblioteca. Uma biblioteca com livros que abarquem todos os temas possíveis e imaginários; uma biblioteca que ganhe pó para eu poder, posteriormente, ter o prazer de a limpar; uma biblioteca que cheire, realmente, a biblioteca. Só assim terei o prazer de sentir a autenticidade das letras, que são, de resto, a minha vida.

Sara Gonçalves,

Torres Vedras – 18 de Agosto de 2011.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A Felicidade não tem Sinais Exteriores

«A felicidade não tem sinais exteriores; para a conhecer seria necessário ler no coração do homem feliz; mas a alegria lê-se nos olhos, no porte, no sotaque, no modo de andar, e parece comunicar-se a quem dela se apercebe. Existirá algum prazer mais doce do que ver um povo entregar-se à alegria num dia festivo, e todos os corações desabrocharem aos raios expansivos do prazer que passa, rápida mas intensamente, através das nuvens da vida?»

Jean-Jacques Rousseau em Os Devaneios do Caminhante Solitário.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Cenário de Verão

Conhecem aqueles finais de tarde de Verão que nos fazem encarar o mundo como um lugar melhor? Aquele sentimento de paz que nos acaricia o coração fazendo-o até suspirar de saciação? Eu conheço-o bem. Hoje, conheço-o bem.

À minha frente vejo um quadro pintado com as mais belas cores da natureza, envolto num cheiro de maresia, tão característico desta terra. O sol desce lentamente num céu maioritariamente azul manchado com diferentes tons de laranja e rosa. As rochas começam a aparecer à medida que a maré vai vazando. Já as ondas constroem uma melodia capaz de adormecer uma criança depois de um pesadelo. Avistam-se algumas pessoas nesta praia que mais parece um pequeno paraíso escondido neste país contemplado com o grande oceano. O vento do Norte emigrou, resta apenas a doce brisa que dá as boas-vindas à lua. Conseguem visualizar este cenário lendo apenas estas linhas, curtas linhas, que não chegam nem perto da realidade?

Tudo isto pode ser (e é) passageiro. Posso estar a ter uma ilusão. Descartes perguntar-se-ia, colocando em prática o seu método que privilegia a dúvida, se não estaria a sonhar. Mas… e se o cenário for mesmo real e amanhã chover? Tudo desaparecerá. O belo encontrará o seu fim. Alguns desejam mesmo que chova - falo dos agricultores que anseiam por uma boa colheita, dos amantes do Inverno e de tantos outros. Não obstante, nem os homens que preferem o cinza à cor poderão negar a beleza que avisto, aqui, sentada nesta areia agora um tanto fresca.

Olho o horizonte e devolvo-lhe o sorriso. Acabei de ter um doce momento de escrita, diria mesmo de reflexão. Haverá muitos como este?

Sara Gonçalves

28 de Julho de 2011, Santa Cruz – Torres Vedras