Segunda Primavera
Se cada folha
For uma flor.»
Albert Camus
Cada alma vê o mundo de maneira diferente. A vida, quando vivida, torna-se para todos um bailado de verdades e mentiras, factos e sonhos. E é neste mar de antíteses que todo o ser respira, avistando inevitavelmente um horizonte e sendo ele próprio o horizonte de si mesmo.
Pergunto-me o que torna Paris tão especial. Uns preferem-na diurna, outros noturna (os amantes da vida boémia, em particular). O protagonista do novo filme de Woddy Allen prefere Paris à chuva.
De dia, de noite ou à chuva, penso (sem nunca lá ter ido) que Paris é sempre especial.
Meia-noite em Paris prova isso mesmo. O filme enceta com imagens arrasadoras da cidade. Ouvi alguns «uau!» no cinema durante os primeiros minutos. Eu própria estava encantada (confesso que só me apetecia saltar para dentro do ecrã e ser uma das personagens! Pisar aquele chão ter-me-ia dado quilogramas de felicidade!).
Depois de um delicioso passeio virtual, a história. Um escritor, noivo de Inez, uma mulher rica e atraente, arrisca escrever um romance em vez dos seus já habituais guiões cinematográficos. Todas as noites, quando toca o sino da igreja anunciando as doze badaladas, Gil apanha uma carruagem que o leva até aos anos 20 parisienses, um poço de inspiração, época de grandes vultos como Ernest Hemingway, Gertrude Stein ou Pablo Picasso. Aí conhece Adriana, personagem que surge enquanto amante do pintor anteriormente citado, por quem o escritor se apaixona profundamente. Acontece que Gil troca Inez pelos anos 20 e Adriana acaba por trocar Gil pela Belle Époque. Mas não, não se apoquentem. No final, surge um novo amor – e este no presente.
Resumindo: Allen sai de cena com uma verdadeira obra-prima. Os meus parabéns pela inteligência, perspicácia e elegância com que construiu Meia-Noite em Paris.
C’est suprême!
No céu a bruma do norte,
No quarto cama fria e solitária
Onde adormeço todas as noites
Só.
Foi essa solidão que me fez querer
Enterrar para sempre
Teu nome,
Tua voz,
Tua imagem.
Pensou minha razão ingénua
Que havia elegido caminho mais seguro.
Perguntam-me que caminho é esse.
Todos o chamam de ‘adeus’.
‘Adeus’ pronunciei vezes que não se contam
Antes de te enviar, por fim, a palavra.
Essa palavra que,
Sob um infindo fio de lágrimas,
Poria fim ao sofrer.
Não sabia eu o que isso era,
Pois se o soubesse
Tal despedida não teria sido mais
Que pura quimera.
Nada no mundo se pode separar
Sem antes se ter unido.
Espero que nos unamos, um dia.
Até lá guardo com cuidado
O pensamento que te pensa,
O coração que te sente,
O amanhã que te trará até mim.
Por nós o aguardo
Sem pressas nem devaneios,
Sem escapes nem injúrias.
O caminho mais fácil é a fuga,
Mas não há fuga que traga felicidade.
A verdadeira força humana reside na paciência.
Paciente é o amor.
Sara Gonçalves
Torres Vedras, 14 de Setembro de 2011
«Há mais jovens a considerar que a leitura é importante para a sua vida pessoal. Em 2007, entre os que tinham 15 a 24 anos, 30,6% consideraram-na "muito importante". Em Março passado, neste grupo etário, já eram 52,4% os que afirmaram o mesmo. Este aumento de 22 pontos percentuais regista-se entre o primeiro e o quinto ano de vigência do Plano Nacional de Leitura (PNL), frisa-se no relatório de avaliação externa daquele programa, que será hoje apresentado em Lisboa.»
Foi esta a notícia lançada hoje pelo jornal Público acerca de um inquérito desenvolvido em Março deste ano, que contou com uma amostra de 1257 indivíduos.
De entre os vários comentários online feitos pelos leitores do diário a esta notícia, gostaria de mencionar um em particular: «O que me preocupa verdadeiramente é o facto de 47.6% dos jovens entre os 15 e os 24 anos não achar a leitura muito importante…». Caríssimo Miguel, de Paço de Arcos, concordo consigo. Ainda que inferior, este segundo número pesa mais.
A leitura tem inúmeras vantagens: estimula o cérebro, aumenta a nossa capacidade de raciocínio, torna o ser humano mais criativo e o seu discurso mais rico. Infelizmente, muitos são os que não vêem estas vantagens e pensam que a fórmula matemática da leitura de um bom livro é a subtracção (ou tempo perdido) e não a soma (ou conhecimento adquirido).
Talvez o principal problema dos jovens, em geral, seja a ausência de estímulo. Muitos são os encarregados de educação que preferem assistir a uma telenovela depois de jantar do que ler O Primo Basílio. Têm toda a legitimidade para o fazer. Contudo, o facto de os mais velhos não gostarem de ler Eça de Queirós não implica necessariamente que não possam ajudar os filhos na busca pelos encantos da leitura. Contar uma história antes de adormecer, ir a uma feira do livro ao Domingo à tarde ou comprar o semanário são encorajamentos que não dão muito trabalho e podem, um dia, gerar bons frutos.
É entre os 15 e os 24 anos que se solidificam as identidades. Por isso, não é demais pedir que, num próximo inquérito, o número de jovens que considerem a leitura importante para a sua vida pessoal seja bastante superior. Ficar satisfeito com a maioria é cruzar os braços.
Sara Gonçalves