quarta-feira, 23 de junho de 2010

Para a Bárbara

Uma criança é um abrigo

No qual eu me escondo

Em momentos de desassossego.

Instantes fortuitos, sem sentido.


Uma criança tem um sorriso resplandecente

E um olhar repleto de ternura.

O seu cheiro é tão puro e inocente

Que me faz sentir segura!


Ser educadora é assim,

É dar e receber,

É viver em constante festim

Esquecendo a palavra “sofrer”.


É ver um mundo colorido,

Que também ajudamos a pintar,

É receber o maior dos carinhos,

É tão simplesmente isto. Amar.



Para a Bárbara, que me pediu que escrevesse estes versos. Não foi fácil por-me no papel de educadora de infância. Só escrevo o que me vem da alma. Como tal, este pequeno poema foi um desafio. Espero que gostes, amiga!

Sara Gonçalves

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Tributo a José Saramago

Neste mundo, onde todos se escondem perante a sociedade alienada, José Saramago era livre. Aprendi que quanto melhor nos conhecemos, maior é a nossa liberdade. Por isso afirmo a sua. O escritor explodia no papel. O seu comportamento era previsível. As suas palavras não. Mas como poderiam o ser? De um bom escritor vem sempre a novidade, o espanto. Uma maré cheia de novos pensamentos que, sendo novos, não deixam, ainda assim, de ser adjectivados pela coerência.

É na escrita de Saramago que tudo fica. Palavras imunes ao tempo. A voz que as profere ecoa na nossa memória. Só um grande escritor consegue fazer com que a sua escrita se mantenha viva para a eternidade. Não tenho dúvidas que Saramago o conseguirá. Porém, há que acrescentar que não se é um grande escritor sem se ser, primeiro, um grande homem. Pouco ou nada conheço da vida do autor de Memorial do Convento, mas de uma coisa estou certa: ele era um grande homem. Dos poucos que dizia o que lhe ia na alma sem ter medo das consequências; verdadeiro, sincero, honesto, inteligente. Foi criticado pelo que escrevia cá, foi para Espanha e em Portugal continuaram as críticas. O espelho do nosso conservadorismo.

O que importa é que este senhor foi homenageado em vida. Não acho que colocá-lo ao lado de Fernando Pessoa seja exagero da minha parte. Ambos deram um enorme contributo para a cultura do nosso país e fizeram correr muitas lágrimas ao povo português. Pessoa depois de morto, Saramago ainda em vida. É aqui , neste lugar, que todos deviam ser galardoados pelo seu trabalho. Nada sabemos sobre o que há para além disto. O autor, falecido no passado dia 18 de Junho, recebeu o prémio Nobel da Literatura em 1998 e obteve o mais importante prémio português, o prémio Camões. Os meus profundos e sinceros parabéns, senhor José Saramago! Resta agora homenageá-lo e falar de si como você merece: com todo o respeito e admiração.

Ironias da vida! Confesso que a primeira vez que li o Memorial, na minha instável adolescência, achei que não iria conseguir chegar ao fim depois de terminar as duas primeiras páginas. Ao fim cheguei, mas foram muitas as vezes que tive de voltar atrás para perceber o contexto, quem falava, o que dizia… A segunda vez que li a obra já foi diferente. Porque não a li. Devorei-a! Tempos depois, deliciei-me com O Ano da Morte de Ricardo Reis e as Intermitências da Morte. É com um parágrafo desta última obra que me fico.

«A morte afogou as cordas do violoncelo, passou suavemente as pontas dos dedos pelas teclas do piano, mas só ela podia ter distinguido o som dos instrumentos, um longo e grave queixume primeiro, um breve gorjeio de pássaro depois, ambos inaudíveis para ouvidos humanos, mas claros e precisos para quem desde há tanto tempo tinha aprendido a interpretar o sentido dos suspiros.»

José Saramago era livre. José Saramago É livre!

Sara Gonçalves.

sábado, 19 de junho de 2010

Um ano passou

Um ano passou

E nada sei de ti. De nós.

Tudo mudou, tudo se dissipou.

Até essa tua doce, tão doce!, voz.


Coração destroçado, mal amado,

Respiração fraca, morosa...

Olhos pejados de medo!!!

Lágrimas, muitas! Oooh!, vista sumosa!


Prisioneira eu sou. Prisioneira de um passado

Que se arrasta nesta triste vida;

Que dorme todas as noites a meu lado;

Que me faz sentir despida.


Despida de tudo.

De mim. De ti. De nós.

Alma de luto, débil, solitária!

Coração e alma, alma e coração. Sós.


São eles, alma e coração, que rezam ao céu e às estrelas

Para que nos voltemos a encontrar.

Mas aqueloutros, o céu e as estrelas,

Já não a deixam sonhar.



Sonhar.

Acreditar.

Amar.



Sara Gonçalves

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O Voo

A voar sem asas,

A deambular ao sabor do vento,

A tua voz. Doce, suave.

Quando Tu falas

É a voar que Eu me sinto.


Sobrevoando o mar

Vejo o Teu nome escrito na água.

Como é belo esse teu nome!

É assim que o vou sempre pronunciar:

Como se fosse Tua.


A noite que chega, devagar,

Traz consigo o teu cheiro.

Esse perfume hipnotizante e venenoso

Que me faz amar-te!

E amar-te é tudo o que eu não quero.


Sara Gonçalves

sexta-feira, 28 de maio de 2010

A vontade humana

«No homem a vontade continua a falar mesmo depois de a natureza se calar.»

Rousseau (acerca do tema da liberdade e do determinismo).

Mahler

Oiçam bem esta maravilhosa melodia de Mahler (Quartet for piano)!

quinta-feira, 27 de maio de 2010

"As horas"



Três eras, três histórias e três mulheres sem ligação aparente, mas ambas são parte num continuum que é a base para este filme. Três mulheres sem a noção de que apenas uma obra singular e poderosa pode mudar-lhes a vida. O livro é Mrs. Dalloway, a excelente novela de Virginia Wolf. As mulheres são Virginia Wolf, a própria autora, Laura Brown, um mãe e esposa que vive em Los Angeles no final da 2ª Guerra Mundial e que através da leitura de Mrs. Dalloway pode mudar a sua vida para sempre, e finalmente, Clarissa Vaughan, uma versão actual de Mrs. Dalloway, que vive em Nova Iorque e está apaixonada por um poeta brilhante doente de sida.
Do cineasta inglês Stephen Daldry, com as interpretações de Meryl Streep como Clarissa Vaughn, Julianne Moore no papel de Laura Brown e Nicole Kidman no papel de Virginia Woolf.
Um dos melhores filmes que vi até hoje. De uma forma verdadeiramente arrepiante, faz pensar no sentido da nossa própria existência.
Não percam a oportunidade de ver!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A nossas almas

´A razão porque dói tanto nos separarmos é porque as nossas almas estão ligadas. Talvez sempre tenham estado e sempre o fiquem. Talvez tenhamos vivido milhares de vidas antes desta, e em cada uma nos tenhamos reencontrado. E talvez que em cada uma tenhamos... sido separados pelos mesmos motivos. Isto significa que esta despedida é, ao mesmo tempo, um adeus pelos últimos dez mil anos e um prelúdio ao que virá.
Quando olho para ti vejo a tua beleza e graça, e sei que cresceram mais fortes com cada vida que viveste. E sei que gastei todas as vidas antes desta à tua procura. Não de alguém como tu, mas de ti, porque a tua alma e a minha têm que andar sempre juntas. E assim, por uma razão que nenhum de nós entende, fomos obrigados a dizer-nos adeus.
Adoraria dizer-te que tudo correrá bem para nós, e prometo fazer tudo o que puder para garantir que assim será. Mas se nunca nos voltarmos a encontrar outra vez, e isto for verdadeiramente um adeus, sei que nos veremos ainda noutra vida. Iremos encontrar-nos de novo, e talvez as estrelas tenham mudado, e nós não apenas nos amemos nesse tempo, mas por todos os tempos que tivemos antes.´

Nicholas Sparks