domingo, 12 de agosto de 2012

Volta, Razão


Tomei uma estrela na minha mão,
Acariciei-a com as pontas dos dedos
E pedi-lhe que trouxesse a razão que perdi
De volta até mim, depressa.

Elucidando-a da sua beleza,
Implorei que levasse às outras estrelas
O meu pedido; senti-a levantar voo
E vi-a esconder-se suavemente por detrás das nuvens.

A noite revestiu-se de um silêncio
Profundo, pesado, amargurado.
Sinto que os meus olhos querem fechar-se,
Luto para não adormecer…

Adormeço.
Sonho.
Acordo.
O silêncio.

Já é dia. As estrelas desapareceram.
A minha razão continua calada.
Apercebo-me então de que estou só.
Estou só com o meu coração.


Sara Gonçalves
Torres Vedras, 12 de agosto de 2012.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

SENTIDOS DO AMOR (Perfect Sense) - Trailer Legendado by inSanos



Um bom filme é, obviamente, aquele que consegue transmitir ao espectador a sua mensagem. Mas não é só isso. É preciso que desperte em nós algum tipo de sentimento: nostalgia, compaixão, temor, euforia, tristeza. Perfect Sense cumpre estes dois requisitos na perfeição. Traduzido para português como Sentidos do Amor, este filme retrata o aparecimento e a propagação de um vírus que rapidamente rouba ao ser humano os seus cinco sentidos: começamos a assistir à privação do olfacto e depois do paladar, da audição e da visão. Já não visualizamos o momento da perda do tacto, porque isso não seria possível. Somos conduzidos ao limite. O sufoco alcança o seu apogeu: a dada altura, já não suportamos a escuridão que vemos no ecrã nem o silêncio que se instala. Somos obrigados a colocar-nos no lugar das personagens, mesmo não querendo.
O que quero aqui ressalvar não é tanto o horror da perda dos cinco sentidos, mas sim a aprendizagem que a história nos oferece. No fundo, o filme de David Mackenzie pretende que agarremos o que resta de bom quando perdemos algo importante, algo sem o qual pensávamos não conseguir viver. Mesmo sem paladar, podem confecionar-se pratos crocantes e barulhentos. Podemos até comer sabonete no banho tal como Eva Green e Ewan McGregor! Mesmo sem visão, podemos sentir, tocar, abraçar o corpo do nosso companheiro. Mesmo sem ouvir o bater do nosso coração, sabemos que ele está lá. Sabemos que podemos amar e amamos.
Adorei, particularmente, o fim desta obra: o reencontro dos dois amantes, as suas imagens desfocadas e, por fim, o negro revestido pelo toque na pele um do outro. Só assistindo se percebe.
A mensagem de Perfect Sense é muito simples: preservar o amor quando tudo o resto se evapora.
Vejam!

Sara Gonçalves

quarta-feira, 21 de março de 2012

Canto-te, Poesia

Canto-te, Poesia

Para que os homens

Abandonem a contumaz surdez

Que os tornou tão pequenos

E para que abracem de novo

Uma vida repleta de versos

Que, mesmo não rimando,

Trarão consigo a simplicidade

Própria de um mundo

Vestido de flores e águas cristalinas.


Sara Gonçalves

Braga, 21 de março de 2012 - Dia Mundial da Poesia

segunda-feira, 12 de março de 2012

Peço-te, tempo, que sossegues

Peço-te, tempo, que sossegues.

Sossega para que chegue tardiamente

Tudo o que é gasto e vetusto,

Pois é meu desejo permanecer

Na simplicidade da juventude,

Isenta de peso e responsabilidade.

Zelo pelo perdurar da inocência

Da mesma maneira que o fazem

Todas as cândidas moças

Que aguardam ser aprisionadas

Pelos braços dos seus amantes sôfregos,

Sob o doce luar primaveril

Que ilumina os solos ainda húmidos.


Peço-te, tempo, que me devolvas

Cada minuto que desperdicei

Com ilusões e devaneios próprios

De quem ainda tão pouco sabe sobre a vida.

Já só quero o que os olhos veem,

Não mais o que pensam ver.

Preciso de esquecer a ilusão

Fruindo e usufruindo da realidade.

Tempo para ser o que ainda não fui,

Tempo para viver a mocidade até hoje enegrecida

Por nuvens cinzentas e choradeiras

Que, impiedosa e desmesuradamente,

Me molharam o rosto rosado.


Deixar o meu pensamento ser artista

E vê-lo pintar longos e solarengos caminhos

Que aguardarão ser percorridos

Antes que o retorno solte o seu último suspiro;

Permitir que estas mãos que amam a natureza

Plantem jardins despidos de ervas daninhas;

Encontrar girassóis e flores-de-lis inesperados

Enquanto me deleito com o canto dos rouxinóis;

Libertar-me da mesmidade que enclausura

Este mundo cego por toda a poeira que o cerca;

Ouvir sem pressas o meu respirar, já tão fatigado

De ser silenciado pela agitação da vida;

Tudo isto eu ambiciono, tempo!


Por isso te peço que sossegues.

Sossega para que eu possa concretizar

Cada sonho que carrega este poema.

Sossega, tempo.

Sossega.

Sossega…



Sara Gonçalves

Torres Vedras, 11 de março de 2012.

Poema apresentado ao concurso "3º Encontro de Poesias" da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.


segunda-feira, 5 de março de 2012

Feira do Livro 2012

Este ano, a Feira do Livro de Lisboa realizar-se-á entre os dias 24 de abril e 13 de maio, no Parque Eduardo VII.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Antevisão aos Óscares 2012


Fonte da imagem:http://entretenimento.r7.com/cinema/noticias/o-artista-e-os-descendentes-sao-favoritos-dos-criticos-20111212.html

Este ano revela-se favorável para os críticos do cinema de Hollywood fazerem-se ouvir. Mais do que nunca. Acontece que todos os candidatos ao Óscar de melhor filme são bons, mas não o suficiente para estarem nesta corrida. Talvez o que se aproxime mais do protótipo que tal estatuto reivindica seja O Artista, de Michel Hazanavicius. Não pela sua mudez (este filme não é mudo; aparecem, inclusivamente, vozes no final), mas sim pela forma como nos prende a atenção durante quase uma hora e trinta minutos e, claro, pela sua música. A banda sonora é encantadora!!! Destaco o maravilhoso cão da personagem George e vergo-me perante a cena extremamente comovente em que ele implora com os seus olhos para que o dono não cometa suicídio. Outro tributo ao cinema é A Invenção de Hugo que, a meu ver, ficou aquém das expectativas (talvez não devesse, pessoalmente, ter-lhe depositado tantas). Não obstante, acho curioso estarem a lutar pela estatueta dois filmes que exaltam a sétima arte (sem nunca chegar aos calcanhares do delicioso Cinema Paraíso, vencedor de um óscar para melhor filme estrangeiro, em 1990). Em relação aos restantes nomeados, e apesar de já aqui ter declarado que nenhum merece ganhar, gostei de todos (até de Moneyball, que não faz de todo o meu género), mas quero sublinhar outros dois que, de certa forma, me tocaram: o primeiro é A Árvore da Vida, que me parece ser realmente uma obra-prima pela sua fotografia. Ao longo da narrativa, vemos um bebé crescer no ventre da mãe, vemos o planeta Terra no espaço, vemos uma árvore no meio do deserto, vemos cor, luz, sentimos dor, sofreguidão e, à medida que tudo isto acontece, ouvimos o nosso coração bater com uma celeridade cada vez maior, apesar da estranha calma em que parecemos estar embebidos. Sim, este filme suscita esta contradição: faz-nos parecer que nada mudou, mas, à medida que as cenas passam, nós estamos, efetivamente, a mudar. Este jogo é, no mínimo, brilhante! Advogo também que Brad Pitt não deveria ter recebido a sua nomeação por Moneyball, mas sim por esta última obra referida. O segundo filme que destaco é Cavalo de Guerra, de Steven Spielberg (que, este ano, está de parabéns por ser o produtor com mais nomeações na corrida). Gostei particularmente desta película por revelar o amor e a devoção que podem existir entre um homem e um animal que lutam, vencem e, por fim, têm a maior de todas as recompensas: um reencontro já nos términos da I Guerra Mundial. No que toca aos restantes filmes (já escrevi um artigo neste blogue sobre Meia-Noite em Paris, pelo que não vou voltar a dar a minha opinião sobre este filme), posso desde já afirmar alguma desilusão em relação a Os Descendentes: George Clooney faz, de facto, um ótimo papel (a sua imagem no hospital, a falar com a mulher que se encontrava em coma, ficou-me na memória pela sua densidade e carga psicológica) e talvez mereça o óscar, mas o filme não merece. O resultado final pareceu-me um pouco banal (talvez a culpa seja do cenário hawaiano). Antes de terminar, há que referir também o extraordinário papel que desempenham todas as atrizes de As Serviçais e, muito particularmente, o jovem ator de Extremamente Alto, Incrivelmente Perto, Thomas Horn. Estava expectante em relação a este filme por entrarem dois artistas por quem nutro uma grande estima: refiro-me a Tom Hanks e Sandra Bullock. Acontece que o papel desta criança que luta incansavelmente para descobrir o que abrirá uma chave deixada pelo seu pai, falecido no ataque do 11 de Setembro às torres gémeas, no bolso de um casaco, abafa todos os outros. Avassaladora, como seria de esperar, é também a interpretação de Meryl Streep no papel de Margaret Thatcher, em A Dama de Ferro. Veremos se é este ano que a minha atriz predileta arrecada o seu segundo óscar de melhor atriz principal. Espero que sim. Desejo ainda, e acima de tudo, que o espetáculo de amanhã no Kodak Theatre seja melhor que o transato.


Sara Gonçalves

sábado, 7 de janeiro de 2012

Wagner: Tristan und Isolde



Caríssimos leitores:
É com Wagner que vos desejo um ano de 2012 muito feliz, repleto de saúde e de muitos sucessos, quer a nível pessoal, quer profissional!

Sara Gonçalves