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quarta-feira, 21 de março de 2012

Canto-te, Poesia

Canto-te, Poesia

Para que os homens

Abandonem a contumaz surdez

Que os tornou tão pequenos

E para que abracem de novo

Uma vida repleta de versos

Que, mesmo não rimando,

Trarão consigo a simplicidade

Própria de um mundo

Vestido de flores e águas cristalinas.


Sara Gonçalves

Braga, 21 de março de 2012 - Dia Mundial da Poesia

segunda-feira, 12 de março de 2012

Peço-te, tempo, que sossegues

Peço-te, tempo, que sossegues.

Sossega para que chegue tardiamente

Tudo o que é gasto e vetusto,

Pois é meu desejo permanecer

Na simplicidade da juventude,

Isenta de peso e responsabilidade.

Zelo pelo perdurar da inocência

Da mesma maneira que o fazem

Todas as cândidas moças

Que aguardam ser aprisionadas

Pelos braços dos seus amantes sôfregos,

Sob o doce luar primaveril

Que ilumina os solos ainda húmidos.


Peço-te, tempo, que me devolvas

Cada minuto que desperdicei

Com ilusões e devaneios próprios

De quem ainda tão pouco sabe sobre a vida.

Já só quero o que os olhos veem,

Não mais o que pensam ver.

Preciso de esquecer a ilusão

Fruindo e usufruindo da realidade.

Tempo para ser o que ainda não fui,

Tempo para viver a mocidade até hoje enegrecida

Por nuvens cinzentas e choradeiras

Que, impiedosa e desmesuradamente,

Me molharam o rosto rosado.


Deixar o meu pensamento ser artista

E vê-lo pintar longos e solarengos caminhos

Que aguardarão ser percorridos

Antes que o retorno solte o seu último suspiro;

Permitir que estas mãos que amam a natureza

Plantem jardins despidos de ervas daninhas;

Encontrar girassóis e flores-de-lis inesperados

Enquanto me deleito com o canto dos rouxinóis;

Libertar-me da mesmidade que enclausura

Este mundo cego por toda a poeira que o cerca;

Ouvir sem pressas o meu respirar, já tão fatigado

De ser silenciado pela agitação da vida;

Tudo isto eu ambiciono, tempo!


Por isso te peço que sossegues.

Sossega para que eu possa concretizar

Cada sonho que carrega este poema.

Sossega, tempo.

Sossega.

Sossega…



Sara Gonçalves

Torres Vedras, 11 de março de 2012.

Poema apresentado ao concurso "3º Encontro de Poesias" da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.


terça-feira, 1 de novembro de 2011

O primeiro de Novembro daquele tempo longínquo

Lembro-me do primeiro de Novembro

Daquele tempo longínquo

Do qual já só restam recordações.

Assemelho-o àquela infância sorridente

Que partiu sem se despedir,

Deixando ficar apenas rastos

Aos quais hoje presto devoção,

Para tentar reaver alguma da alegria

Que percorria aquele meu corpo de criança.


Jovialmente, lá ia eu,

Embalada pelo tocar dos sinos da igreja,

No primeiro de Novembro,

De porta-em-porta,

Pedir doces, broas e frutos secos,

Com sorte moedas! - não de ouro, mas de chocolate -

A quem quase nada tinha

E que, mesmo sem nada ter, não se importava de dar.

Os velhos da aldeia acatavam todos os pedidos

Porque sabiam que, em troca,

Receberiam olhares cheios de vida,

De esperança, de futuro.


Naquele fim de tarde

Do primeiro de Novembro,

De rosto cansado e rosado,

Comia a oferenda de quem enriquecera

Com o meu sorriso de agradecimento

E, à noite, todos adormecíamos satisfeitos.

Por maior que fosse o frio -

Presságio do Inverno que se avizinhava -

Os nossos corações permaneciam

Quentes, aconchegados com o carinho

Que havia preenchido todo aquele dia.


Hoje, a minha aldeia está morta.

Mesmo assim, não posso deixar de recordar

Aquele primeiro de Novembro.



Sara Gonçalves

Braga, 1 de Novembro de 2011

domingo, 9 de outubro de 2011

"A Rosa e a Esperança" vence 1º prémio

Caros leitores,
É com grande contentamento que informo que o meu poema A Rosa e a Esperança foi galardoado com o 1º prémio do concurso de poesia sobre o tema "A Vida e a Morte", no âmbito das Comemorações dos 20 anos do Novo Hospital de Guimarães.

Dedico-o inteiramente à minha avó Conceição, a estrela que me guia todos os dias. Foi a pensar nela que escrevi os versos que se seguem.


A Rosa e a Esperança


Costumo olhar as rosas

Com o espanto inocente

De quem se admira

Com o simples semblante da natureza.

Em tempos, não olhava a sua beleza,

Só o seu murchar,

Esse murchar moroso; inquietante;

Fatal.


Mas, de que me adiantava

Encarar as rosas como um simples adorno,

Um nada disfarçado de cor?

A efemeridade de cada rosa

É a minha própria efemeridade.

A utopia de uma eternidade inatingível

Tornou-se na plenitude do agora,

Naquele momento -

Longo e súbito momento -

Em que ao quadro multicolor da existência

Se sobrepôs a escuridão.


Depois da escuridão,

O despertar.

O despertar de um sono dogmático

Em que até então havia estado mergulhada.

Cresceu em mim a vontade de tomar

Todos os elementos mundanos

Como seres supremos,

Dotados de uma tal força singular

Que é agora minha condiscípula

Nas horas de maior debilidade.


O cheiro das rosas é doce,

A sua quietude perfeita.

Contemplo tudo o mais que há de belo,

Ainda que a beleza não passe

Desse fio ténue que tem por baixo

Um abismo colossal.

Que me importa?

Não há maior prazer

Que o prazer do Mundo em si.


Aprendamos a viver,

Pois essa é a maior das aprendizagens.

Retiremos partido de tudo

Quanto nos aconteça.

Quando a noite chegar

E o frio se fizer sentir,

Lembremo-nos da beleza da rosa

E de todas as outras flores do jardim

Que ainda queremos contemplar,

Cheirar, acariciar, amar.


Porque a morte - esse fim que adormece

Todos os dias a nosso lado -

Não nos permite apenas

Falar da vida.

A morte dá-nos a força

Necessária para vivê-la.

Assim se unem os contrários,

Morte e vida, vida e morte,

Neste Mundo tão cheio de antíteses

Que não são mais do que espelhos de um

Todo.

A esse Todo chamo

Esperança.


Sara Gonçalves,
21 de Junho de 2011 - Braga.

domingo, 25 de setembro de 2011

Outono

«O Outono é uma
Segunda Primavera
Se cada folha
For uma flor.»


Albert Camus

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Paciente é o Amor

No céu a bruma do norte,

No quarto cama fria e solitária

Onde adormeço todas as noites

Só.

Foi essa solidão que me fez querer

Enterrar para sempre

Teu nome,

Tua voz,

Tua imagem.

Pensou minha razão ingénua

Que havia elegido caminho mais seguro.

Perguntam-me que caminho é esse.

Todos o chamam de ‘adeus’.


‘Adeus’ pronunciei vezes que não se contam

Antes de te enviar, por fim, a palavra.

Essa palavra que,

Sob um infindo fio de lágrimas,

Poria fim ao sofrer.

Não sabia eu o que isso era,

Pois se o soubesse

Tal despedida não teria sido mais

Que pura quimera.


Nada no mundo se pode separar

Sem antes se ter unido.


Espero que nos unamos, um dia.

Até lá guardo com cuidado

O pensamento que te pensa,

O coração que te sente,

O amanhã que te trará até mim.

Por nós o aguardo

Sem pressas nem devaneios,

Sem escapes nem injúrias.


O caminho mais fácil é a fuga,

Mas não há fuga que traga felicidade.

A verdadeira força humana reside na paciência.

Paciente é o amor.


Sara Gonçalves

Torres Vedras, 14 de Setembro de 2011