terça-feira, 1 de novembro de 2011

O primeiro de Novembro daquele tempo longínquo

Lembro-me do primeiro de Novembro

Daquele tempo longínquo

Do qual já só restam recordações.

Assemelho-o àquela infância sorridente

Que partiu sem se despedir,

Deixando ficar apenas rastos

Aos quais hoje presto devoção,

Para tentar reaver alguma da alegria

Que percorria aquele meu corpo de criança.


Jovialmente, lá ia eu,

Embalada pelo tocar dos sinos da igreja,

No primeiro de Novembro,

De porta-em-porta,

Pedir doces, broas e frutos secos,

Com sorte moedas! - não de ouro, mas de chocolate -

A quem quase nada tinha

E que, mesmo sem nada ter, não se importava de dar.

Os velhos da aldeia acatavam todos os pedidos

Porque sabiam que, em troca,

Receberiam olhares cheios de vida,

De esperança, de futuro.


Naquele fim de tarde

Do primeiro de Novembro,

De rosto cansado e rosado,

Comia a oferenda de quem enriquecera

Com o meu sorriso de agradecimento

E, à noite, todos adormecíamos satisfeitos.

Por maior que fosse o frio -

Presságio do Inverno que se avizinhava -

Os nossos corações permaneciam

Quentes, aconchegados com o carinho

Que havia preenchido todo aquele dia.


Hoje, a minha aldeia está morta.

Mesmo assim, não posso deixar de recordar

Aquele primeiro de Novembro.



Sara Gonçalves

Braga, 1 de Novembro de 2011

3 comentários:

  1. Lindo!Até eu tenho saudades desse tempo.

    Beijos

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  2. Que bonito e tão bem escrito!
    Belos tempos os de criança...deixam muitas recordações, e muitas saudades.

    Beijinhos

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