Lembro-me do primeiro de Novembro
Daquele tempo longínquo
Do qual já só restam recordações.
Assemelho-o àquela infância sorridente
Que partiu sem se despedir,
Deixando ficar apenas rastos
Aos quais hoje presto devoção,
Para tentar reaver alguma da alegria
Que percorria aquele meu corpo de criança.
Jovialmente, lá ia eu,
Embalada pelo tocar dos sinos da igreja,
No primeiro de Novembro,
De porta-em-porta,
Pedir doces, broas e frutos secos,
Com sorte moedas! - não de ouro, mas de chocolate -
A quem quase nada tinha
E que, mesmo sem nada ter, não se importava de dar.
Os velhos da aldeia acatavam todos os pedidos
Porque sabiam que, em troca,
Receberiam olhares cheios de vida,
De esperança, de futuro.
Naquele fim de tarde
Do primeiro de Novembro,
De rosto cansado e rosado,
Comia a oferenda de quem enriquecera
Com o meu sorriso de agradecimento
E, à noite, todos adormecíamos satisfeitos.
Por maior que fosse o frio -
Presságio do Inverno que se avizinhava -
Os nossos corações permaneciam
Quentes, aconchegados com o carinho
Que havia preenchido todo aquele dia.
Hoje, a minha aldeia está morta.
Mesmo assim, não posso deixar de recordar
Aquele primeiro de Novembro.
Sara Gonçalves
Braga, 1 de Novembro de 2011
Belo poema!
ResponderEliminarLindo!Até eu tenho saudades desse tempo.
ResponderEliminarBeijos
Que bonito e tão bem escrito!
ResponderEliminarBelos tempos os de criança...deixam muitas recordações, e muitas saudades.
Beijinhos