Dedico-o inteiramente à minha avó Conceição, a estrela que me guia todos os dias. Foi a pensar nela que escrevi os versos que se seguem.
A Rosa e a Esperança
Costumo olhar as rosas
Com o espanto inocente
De quem se admira
Com o simples semblante da natureza.
Em tempos, não olhava a sua beleza,
Só o seu murchar,
Esse murchar moroso; inquietante;
Fatal.
Mas, de que me adiantava
Encarar as rosas como um simples adorno,
Um nada disfarçado de cor?
A efemeridade de cada rosa
É a minha própria efemeridade.
A utopia de uma eternidade inatingível
Tornou-se na plenitude do agora,
Naquele momento -
Longo e súbito momento -
Em que ao quadro multicolor da existência
Se sobrepôs a escuridão.
Depois da escuridão,
O despertar.
O despertar de um sono dogmático
Em que até então havia estado mergulhada.
Cresceu em mim a vontade de tomar
Todos os elementos mundanos
Como seres supremos,
Dotados de uma tal força singular
Que é agora minha condiscípula
Nas horas de maior debilidade.
O cheiro das rosas é doce,
A sua quietude perfeita.
Contemplo tudo o mais que há de belo,
Ainda que a beleza não passe
Desse fio ténue que tem por baixo
Um abismo colossal.
Que me importa?
Não há maior prazer
Que o prazer do Mundo em si.
Aprendamos a viver,
Pois essa é a maior das aprendizagens.
Retiremos partido de tudo
Quanto nos aconteça.
Quando a noite chegar
E o frio se fizer sentir,
Lembremo-nos da beleza da rosa
E de todas as outras flores do jardim
Que ainda queremos contemplar,
Cheirar, acariciar, amar.
Porque a morte - esse fim que adormece
Todos os dias a nosso lado -
Não nos permite apenas
Falar da vida.
A morte dá-nos a força
Necessária para vivê-la.
Assim se unem os contrários,
Morte e vida, vida e morte,
Neste Mundo tão cheio de antíteses
Que não são mais do que espelhos de um
Todo.
A esse Todo chamo
Esperança.
21 de Junho de 2011 - Braga.
simplesmente. perfeito....
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