sábado, 15 de outubro de 2011

"O Livro que me Caiu aos Pés"


Saí daquela sala frustrada. No espaço de uma semana, fui duas vezes ao cinema para tentar findar este desassossego interior que não é mais que a consequência da falta de espanto que a sétima arte me tem provocado nos últimos tempos. Duas idas, duas tentativas falhadas. Primeiro, foi Sangue do Meu Sangue, asneirento, exageradamente doloroso e com uma penúltima cena completamente desnecessária, diria mesmo repugnante; depois, O Contágio, uma história banal que abafou por completo o talento de grandes atores como Kate Winslet, Matt Damon, Jude Law, entre outros.

«O cinema não me anda, definitivamente, a consolar», pensei. Olhei para o relógio. Faltavam cinco minutos para a meia-noite, isto é, para as lojas do centro comercial fecharem. Decidi entrar na Bertrand, mesmo sabendo que teria de dar uma vista de olhos rápida pelas estantes (detesto fazê-lo, mas houve, naquele momento, uma «força» qualquer que me puxou para dentro da livraria). Passei rapidamente pelas novidades, quedei-me uns três minutos em frente aos títulos de Filosofia e, por fim, quando me dirigia para a literatura traduzida, um livro caiu-me aos pés. Caiu. Assim. Não toquei, não mexi, não abanei. O livro simplesmente caiu. Peguei no dito, mirei a contracapa e qual não é o meu espanto quando, ao virá-lo, vejo o seguinte nome: «Irvin D. Yalom».

Para quem não conhece, Yalom é um escritor americano, formado em Psiquiatria (já escrevi um artigo sobre ele neste meu espaço: http://horizontedoser.blogspot.com/2010/02/irvin-d-yalom.html), autor dos best sellers Quando Nietzsche Chorou e A Cura de Schopenhauer. É também um dos meus grandes ídolos, um homem dotado de uma escrita terapêutica. Confesso que já andava a estranhar a sua ausência. Vergonhosamente, não sabia que estava para sair uma nova obra. Se soubesse, já a teria na minha prateleira há uns dias.

Curioso: quem diria que não iria ser eu a ir ter com um livro desejado (ainda que na altura não soubesse da existência do objeto desejado), mas o livro a vir ter comigo? Os caríssimos leitores podem dizer-me que foi apenas uma coincidência. Corroboro. É claro que foi! Contudo, também considero as coincidências merecedoras de atenção, principalmente as que são causadoras de um sorriso genuíno como o que há pouco se desenhou no meu rosto.

Moral da história: não encontrei consolo no cinema; vou, porém, encontra-lo - e afirmo isto quase apoditicamente - na literatura, em particular neste novo romance de Yalom intitulado A Psicologia do Amor, que me caiu aos pés numa noite que já nada de bom parecia prometer.


Sara Gonçalves

Torres Vedras, 14 de Outubro de 2011



3 comentários:

  1. Olá Sara Gonçalves,
    Meu nome é Marcus Vinícius, estava eu perambulando pela internet da vida, resolvi checar coisas interessantes, as quais deparei-me com sua página rica em conteúdo explícito de literatura poética. Só fica aqui registrado, você escreve muito bem, trabalha com as palavras de uma forma incrível, estou a busca de motivação para voltar a postar novamente em meu blog. Um grande abraço

    Att: Marcus ViníciuS

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  2. Caro Marcus,
    Muito obrigada pelo seu amável comentário!
    Desejo-lhe muita inspiração.
    Cumprimentos,
    Sara Gonçalves.

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  3. hum....

    Queria eu ter o tempo adequado, para postar pensamentos bacanas, tenho tantos textos que escrevo, mas me falta tempo, e disciplina no meu cotidiano.

    Enfim é a vida, na verdade o mundo não vai parar por isso...

    Abraços!

    Att: Marcus Vinícius

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