Sossega para que chegue tardiamente
Tudo o que é gasto e vetusto,
Pois é meu desejo permanecer
Na simplicidade da juventude,
Isenta de peso e responsabilidade.
Zelo pelo perdurar da inocência
Da mesma maneira que o fazem
Todas as cândidas moças
Que aguardam ser aprisionadas
Pelos braços dos seus amantes sôfregos,
Sob o doce luar primaveril
Que ilumina os solos ainda húmidos.
Peço-te, tempo, que me devolvas
Cada minuto que desperdicei
Com ilusões e devaneios próprios
De quem ainda tão pouco sabe sobre a vida.
Já só quero o que os olhos veem,
Não mais o que pensam ver.
Preciso de esquecer a ilusão
Fruindo e usufruindo da realidade.
Tempo para ser o que ainda não fui,
Tempo para viver a mocidade até hoje enegrecida
Por nuvens cinzentas e choradeiras
Que, impiedosa e desmesuradamente,
Me molharam o rosto rosado.
Deixar o meu pensamento ser artista
E vê-lo pintar longos e solarengos caminhos
Que aguardarão ser percorridos
Antes que o retorno solte o seu último suspiro;
Permitir que estas mãos que amam a natureza
Plantem jardins despidos de ervas daninhas;
Encontrar girassóis e flores-de-lis inesperados
Enquanto me deleito com o canto dos rouxinóis;
Libertar-me da mesmidade que enclausura
Este mundo cego por toda a poeira que o cerca;
Ouvir sem pressas o meu respirar, já tão fatigado
De ser silenciado pela agitação da vida;
Tudo isto eu ambiciono, tempo!
Por isso te peço que sossegues.
Sossega para que eu possa concretizar
Cada sonho que carrega este poema.
Sossega, tempo.
Sossega.
Sossega…
Sara Gonçalves
Torres Vedras, 11 de março de 2012.
Poema apresentado ao concurso "3º Encontro de Poesias" da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.
Sem comentários:
Enviar um comentário