segunda-feira, 12 de março de 2012

Peço-te, tempo, que sossegues

Peço-te, tempo, que sossegues.

Sossega para que chegue tardiamente

Tudo o que é gasto e vetusto,

Pois é meu desejo permanecer

Na simplicidade da juventude,

Isenta de peso e responsabilidade.

Zelo pelo perdurar da inocência

Da mesma maneira que o fazem

Todas as cândidas moças

Que aguardam ser aprisionadas

Pelos braços dos seus amantes sôfregos,

Sob o doce luar primaveril

Que ilumina os solos ainda húmidos.


Peço-te, tempo, que me devolvas

Cada minuto que desperdicei

Com ilusões e devaneios próprios

De quem ainda tão pouco sabe sobre a vida.

Já só quero o que os olhos veem,

Não mais o que pensam ver.

Preciso de esquecer a ilusão

Fruindo e usufruindo da realidade.

Tempo para ser o que ainda não fui,

Tempo para viver a mocidade até hoje enegrecida

Por nuvens cinzentas e choradeiras

Que, impiedosa e desmesuradamente,

Me molharam o rosto rosado.


Deixar o meu pensamento ser artista

E vê-lo pintar longos e solarengos caminhos

Que aguardarão ser percorridos

Antes que o retorno solte o seu último suspiro;

Permitir que estas mãos que amam a natureza

Plantem jardins despidos de ervas daninhas;

Encontrar girassóis e flores-de-lis inesperados

Enquanto me deleito com o canto dos rouxinóis;

Libertar-me da mesmidade que enclausura

Este mundo cego por toda a poeira que o cerca;

Ouvir sem pressas o meu respirar, já tão fatigado

De ser silenciado pela agitação da vida;

Tudo isto eu ambiciono, tempo!


Por isso te peço que sossegues.

Sossega para que eu possa concretizar

Cada sonho que carrega este poema.

Sossega, tempo.

Sossega.

Sossega…



Sara Gonçalves

Torres Vedras, 11 de março de 2012.

Poema apresentado ao concurso "3º Encontro de Poesias" da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.


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