sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"O bem fá-lo gota a gota; o mal fá-lo de uma só vez!"

Como é do conhecimento de todos, foram apresentadas antes de ontem as novas medidas de austeridade pelo Governo português. Quando pensávamos que as coisas não podiam piorar mais para as nossas carteiras, elas pioram.

O engenheiro José Sócrates tem vindo a faltar às promessas que fez a Portugal quando alcançou o cargo de primeiro-ministro. Nós fomos perdoando, perdoando, perdoando. E ele foi abusando, abusando, abusando. A fortuna é como um rio. Quando o caudal aumenta, tende a sair das margens.

E agora, tomem lá mais esta, portugueses! Aumento do IVA para 23%, corte nos ordenados da função pública, corte nos abonos de família, etc, etc, etc. A história repete-se e nós, como sempre, vamos perder poder de compra.

Já dizia Maquiavel: “O bem fá-lo gota a gota; o mal fá-lo de uma só vez!”. O primeiro-ministro devia aprender a lição com quem sabe.

Concordo que na situação económica em que o país se encontra fosse necessário tomar medidas. No entanto, pergunto-me: será que aquela cambada que faz da Assembleia da República um teatro irá sofrer as consequências da mesma forma que nós? Parece-me que não. Os seus carros topo de gama (pagos com o nosso dinheiro) vão continuar, por certo, a percorrer as nossas estradas.

Estamos a caminhar para um beco sem saída. Thomas Hobbes, o mais conceituado filósofo-político de todos os tempos, dizia que os homens, durante o tempo que vivem sem um poder comum capaz de os manter a todos em respeito, encontram-se em guerra. Uma guerra que é de «todos os homens contra todos os homens». E em que situação se encontra um país que, além de uma enorme crise económica, tem uma crise política a querer estourar?

Temos de levar todos os dias com a telenovela mexicana “Sócrates-Passos Coelho”, uma telenovela de fraca qualidade que, sinceramente, já enjoa. O primeiro representa mal, mas tem uma grande oratória e poder de persuasão. Daí continuarmos a levar com ele. O segundo representa bem e, para ajudar, tem aquele charme invulgar que as mulheres portuguesas apreciam. A ambos falta honestidade, mas tal não é de estranhar. A honestidade é inimiga do poder.

Assim, vivemos num país que ora é PS, ora é PSD, ora é PSD, ora é PS. Partidos que detém o poder, mas que, ao longo dos tempos, têm vindo a perder a sua identidade. Do “centrão” é tudo igual. E mais não digo.


Sara Gonçalves

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Grandes estreias no cinema esta semana

"Filme do Desassossego"



"Comer, Orar, Amar"



"Hachiko - Amigo para sempre"

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Quatro Estações

O Outono traz o vento

Que canta. Consegues ouvir?

É a minha voz que chama por ti.

Em sussurros de esperança

Chama por ti.


Depois, vem o cair das folhas

Que forma um bailado de emoções.

Por que não chegas tu?

Continuo a esperar, esperar.

E as folhas vão continuando a cair


Até chegar o Inverno.

Frio, chuvoso, triste.

Triste como o meu coração

Que de tanto chamar por ti

Perdeu a voz.


Lá se foi a doce esperança!

Nem as andorinhas ma trarão de volta

Nem as flores da Primavera,

Nem nada. De ti só lembranças,

Lembranças cada vez mais ténues.


Um dia, chega o Verão.

Continuo gelada.

Mas o sol raia e ilumina os verdes prados.

Que bonitos estão!

Prelúdio de um novo amanhecer.


No Outono que se aproxima

Eu poderei continuar a sonhar com o dia

Em que me irás ouvir no vento,

Em que me irás ver nas estrelas,

Em que me irás cheirar nas flores do jardim.


Sentir-me a cair nos teus braços como a chuva

Cai por essas estradas que fazem de nós

Seres errantes.

Ora com esperança.

Ora com lágrimas.

Sara Gonçalves

27 de Setembro de 2010

Jardim de Santa Bárbara, Braga.

domingo, 26 de setembro de 2010

Filme do Desassossego

DE JOÃO BOTELHO - ESTREIA NACIONAL NO CCB

FILME DO DESASSOSSEG
O

“Serei sempre da Rua dos Douradores, como a humanidade inteira.”

Bernardo Soares, Livro do Desassossego

29 Set 2010 - 21:30
1 Out 2010 - 21:30
2 e 3 Out 2010 - 17:00 e 21:30

M/12 ANOS

29 de Setembro (estreia)

GRANDE AUDITÓRIO | Sessão com a presença do elenco e do realizador JOÃO BOTELHO.

1, 2 e 3 de Outubro
PEQUENO AUDITÓRIO – SALA EDUARDO PRADO COELHO


PREÇO 6€

DESCONTOS
5€
para estudantes

Lisboa, hoje. Um quarto de uma casa na Rua dos Douradores. Um homem inventa sonhos e estabelece teorias sobre eles. A própria matéria dos sonhos torna-se física, palpável, visível.
O próprio texto torna-se matéria na sua sonoridade musical. E, diante dos nossos olhos, essa música sentida nos ouvidos, no cérebro e no coração, espalha-se pela rua onde vive, pela cidade que ele ama acima de tudo e pelo mundo inteiro. Filme desassossegado sobre fragmentos de um livro infinito e armadilhado, de uma fulgurância quase demente mas de genial claridade. O momento solar de criação de Fernando Pessoa. A solidão absoluta e perfeita do EU, sideral e sem remédio. Deus sou eu!, também escreveu Bernardo Soares.


Adaptado de Livro do Desassossego de Bernardo Soares/Fernando Pessoa

Com
CLÁUDIO DA SILVA
ALEXANDRA LENCASTRE
ANA MOREIRA
ANDRÉ GOMES
ANTÓNIO PEDRO CERDEIRA
CARLOS COSTA
CATARINA WALLENSTEIN
DINIS GOMES
FILIPE VARGAS
JOSÉ EDUARDO
LUÍSA CRUZ
MANUEL JOÃO VIEIRA
MARCELLO URGEGHE
MARGARIDA VILA-NOVA
MIGUEL GUILHERME
MIGUEL MOREIRA
MÓNICA CALLE
PAULO FILIPE
PEDRO LAMARES
RICARDO AIBÉO
RITA BLANCO
RUI MORRISON
SOFIA LEITE
SUZANA BORGES

Com música de
CAETANO VELOSO
CARMINHO
LULA PENA
RICARDO RIBEIRO
e Ópera “Marcha fúnebre para o rei Luís Segundo da Baviera” de EURICO CARRAPATOSO

Com interpretação de
ANGÉLICA NETO
ELSA CORTEZ

Fotografia JOÃO RIBEIRO
Som FRANCISCO VELOSO
Direcção artística SÍLVIA GRABOWSKI
Caracterização SANO DE PERPESSAC
Montagem JOÃO BRAZ
Mistura de som JOÃO ELEUTÉRIO E PAULO ABELHO
Assistência de realização PAULO GUILHERME
Direcção de produção DIANA COELHO
Produtor ALEXANDRE OLIVEIRA
Argumento e realização JOÃO BOTELHO

CO-PRODUÇÃO
CCB | AR DE FILMES

Filme apoiado pelo MINISTÉRIO DA CULTURA/ICA | CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA | FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN | RÁDIO E TELEVISÃO DE PORTUGAL

sábado, 25 de setembro de 2010

Nostalgia da infância que foi e não volta

Tudo é fácil quando somos crianças. Os dias são preenchidos por brincadeiras e carícias, e a noite por sonhos. Tantos sonhos! As lágrimas que por vezes caem são originadas por um braço de uma boneca que se quebrou ou por um prato para o almoço do qual não se gosta muito. Nada é complicado, porque é na juventude que a palavra esperança conhece o seu apogeu. Digamos que as crianças são seres que vivem o seu dia-a-dia no seio de um mundo que os adultos tornam difícil, por vezes mesmo insuportável. Isto sem sequer se aperceberem. Medo? Medo só se tem de um bichinho que passa rente aos pés. O mais importante do ano é o Natal, onde toda a família se reúne e sorri. Tão cínicos são alguns sorrisos! Mas o que importa ali é que haja um ambiente alegre para que os pequenos desembrulhem aqueles bens materiais que um dia irão para o lixo. A vida é tão fácil quando não se conhece o alcance da nossa própria existência.

Um dia, que aparece fria e inesperadamente, a paz voa para um outro qualquer lugar inatingível. Todos crescemos. Cada segundo torna-nos mais velhos e amadurecidos. Cada minuto começa, pouco a pouco, a ser precioso, pois o tempo para realizarmos as nossas actividades diárias é cada vez mais escasso. Cada hora, cada dia, cada mês, cada ano, traz mais responsabilidades, mais afazeres, mais encargos. Mais e mais, e o mais nunca acaba. Só aumenta. É aí que sentimos saudades da infância e invade-nos aquela nostalgia que invadiu Fernando Pessoa e o fez escrever os mais belos poemas.

A transição para a fase adulta é tão rápida que assusta! Ontem, ainda eu brincava, ria, pulava, dançava, cantava e nem sequer me passava pela cabeça que tudo iria mudar, e saberia então o quão difícil é estar viva. Hoje, cresci. Tornei-me adulta. Penso que só o percebi quando alguém mo pronunciou várias vezes ao ouvido. Tudo mudou. Percebo agora que já não posso tapar os ouvidos e fazer de conta que o mundo encantado com que eu sonhava em pequena um dia vai ser meu. Vivo, aqui e agora, no mundo real. Aquele de que todos querem, em algum momento, fugir.

SG.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Enxavada - prólogo

Enxavada

Terra de trabalho, solidariedade e todos os vícios.


Prólogo

"Alberto Mendes

Uma vida sem fim neste universo onde o espaço e o tempo não existem, onde apenas o hidrogénio e o seu funcionamento são vida.

Certo dia, Alberto Mendes saiu da sua pacata cidade a norte de Lisboa com destino a Espanha, mais concretamente Sevilha, para assistir a touradas e ouvir flamenco.

Nascido no seio de uma família pobre, deserdada, rural, Alberto ficou órfão muito novo. Tinha os seus oito anos de idade quando os pais morreram debaixo de um comboio na linha do Oeste, entre Caldas da Rainha e Torres Vedras. O tio-avô, de nome Carlos Mendes, tornou-se tutor do coitado do rapaz e levou-o para a quinta onde trabalhava perto de Runa. O dono da “Quinta do Sossego” era João Policarpo, um velho rabugento que depressa se deixou encantar pela inteligência de Alberto. Apadrinhando-o, fez questão que o rapaz prosseguisse os estudos.

O apoio que recebeu do senhor João ajudou o órfão a tornar-se um belo homem, vivaz e dotado de uma capacidade intelectual fora do comum.

Alberto Mendes conseguiu terminar o liceu e, mesmo enquanto estudava, nunca deixou de ajudar na quinta. Quando terminou os estudos, por lá ficou a trabalhar. Depois da morte de João Policarpo, a herdade passou para as mãos do seu tio Carlos. Alberto passava os dias a limpar o estrume dos animais e era sempre ele que ficava encarregue de ordenhar as vacas. Dessa forma, podia ouvir Beethoven e laborar ao mesmo tempo. De vez em quando, fazia uma pausa nos seus trabalhos para dar uma escapadela até ao pomar, onde se deliciava a comer as maçãs frescas que apanhava das árvores.

Um dia, fartou-se da vida no campo e procurou uma nova profissão, na cidade, um emprego que lhe desse um ordenado para poder comprar algumas roupas e, claro, livros. Na quinta, apenas tinha comida e o dinheiro que recebia das vendas do leite, ovos, frutas e legumes não chegava, muitas vezes, para tomar um café todos os dias na tasca da dona Alice. Conseguiu então um emprego na Biblioteca Municipal de Torres Vedras. Teve sorte! Pôde conviver com Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco, os seus autores preferidos, e receber um bom ordenado, melhor do aquele que esperava um dia vir a receber.

Mais uns anos passaram. Alberto Mentes era homem de várias mulheres e, por isso, nunca casou nem teve filhos. Se os teve, não sabia. Sem nada que o prendesse à sua terra de origem e com um bom pé-de-meia no bolso, que foi juntando ao longo de muito tempo de trabalho, o bibliotecário, de 37 anos, decidiu começar a percorrer o mundo.

Passou dois anos a viajar pela Europa e voltou a Portugal. Ironia do destino, ou não, ganhou a lotaria com o pouco dinheiro que lhe havia sobrado das viagens. Partiu para os Estados Unidos da América, onde ficou por mais um ano. Farto de solidão e instabilidade, quis ficar, definitivamente, por Torres Vedras. Encontrou uma rapariga nova e bonita, de nome Almerinda, e pediu a sua mão em casamento. Mas Almerinda recusou. De coração destroçado, Alberto Mendes partiu. Novamente.

Rumo a Sevilha, já havia passado Mértola, quando se enganou e seguiu por estrada mais directa. De repente, deu por si com uma manada de touros bravos a correr à sua frente. Prenúncio do lugar onde iria chegar.

Quando o viajante começou a descer uma estrada cheia de curvas e ladeada de muitas árvores, deu de caras com uma enorme placa, onde estava escrito “Enxavada – Terra de trabalho, solidariedade e todos os vícios”. Seria aquele lugar real?

Entrou na terra pela mesma estrada que o havia trazido até ali. Deparou-se com prédios místicos, antigos, mas muito bem cuidados. Eram todos de semelhante arquitectura. Tinham apenas dois andares, sendo o rés-do-chão ocupado por lojas, livrarias, cafés, restaurantes, bares e tabernas, de onde se ouvia música. Era portuguesa, mas o homem não reconheceu a voz de quem a cantava.

Alberto Mendes, o viajante errante, abancou numa das muitas tascas da Enxavada. Aí deixou de ser apenas bom pensador e converteu-se em bom conversador. Começou desde logo a fazer perguntas ingénuas e inocentes acerca desta terra.

Foi então que apareceu Maravilha dos Santos, o Contador (era como lhe chamavam na terra). A partir daí, a memória invadiu o palco e todos os espectadores que se encontravam na tasca ficaram atentos e ansiosos por ouvir, mais uma vez, o relato de várias e distintas gerações, com todas as suas falhas, acrescentos e outras tantas verdades.

Foi numa noite, entre petiscos, vinho, comida, música, anedotas, mulheres, boa- -disposição, mas também algum cansaço físico, não fosse a Enxavada terra de trabalho, solidariedade e todos os vícios, que se encetou à descoberta daquele que era o melhor lugar do universo."

(Continua...)

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Chama

Há em mim uma chama

Que não se apaga, cresce!

Até ser fogo

Demolidor.

Que queima!


Dele brota a angústia.

Calor mortífero.

Implacável!

És tu,

Coração!

Pobre coração!!


Apagas a minha mente,

Tiras-me a coragem.

Mas os outros falam…

E é então que sentimentos fluem…

Ai!, aquela sede!

Quero matar a sede!!!


Ó!... De que me vale ouvir

Quando os meus olhos não sabem falar?

Melhor assim.

Já não cometo o erro do mundo:

Pensar que sabe tudo

Quando afinal não sabe nada.

Nada!!!!


Nada.


Sara Gonçalves

Braga, 22 de Setembro de 2010.