sábado, 25 de setembro de 2010

Nostalgia da infância que foi e não volta

Tudo é fácil quando somos crianças. Os dias são preenchidos por brincadeiras e carícias, e a noite por sonhos. Tantos sonhos! As lágrimas que por vezes caem são originadas por um braço de uma boneca que se quebrou ou por um prato para o almoço do qual não se gosta muito. Nada é complicado, porque é na juventude que a palavra esperança conhece o seu apogeu. Digamos que as crianças são seres que vivem o seu dia-a-dia no seio de um mundo que os adultos tornam difícil, por vezes mesmo insuportável. Isto sem sequer se aperceberem. Medo? Medo só se tem de um bichinho que passa rente aos pés. O mais importante do ano é o Natal, onde toda a família se reúne e sorri. Tão cínicos são alguns sorrisos! Mas o que importa ali é que haja um ambiente alegre para que os pequenos desembrulhem aqueles bens materiais que um dia irão para o lixo. A vida é tão fácil quando não se conhece o alcance da nossa própria existência.

Um dia, que aparece fria e inesperadamente, a paz voa para um outro qualquer lugar inatingível. Todos crescemos. Cada segundo torna-nos mais velhos e amadurecidos. Cada minuto começa, pouco a pouco, a ser precioso, pois o tempo para realizarmos as nossas actividades diárias é cada vez mais escasso. Cada hora, cada dia, cada mês, cada ano, traz mais responsabilidades, mais afazeres, mais encargos. Mais e mais, e o mais nunca acaba. Só aumenta. É aí que sentimos saudades da infância e invade-nos aquela nostalgia que invadiu Fernando Pessoa e o fez escrever os mais belos poemas.

A transição para a fase adulta é tão rápida que assusta! Ontem, ainda eu brincava, ria, pulava, dançava, cantava e nem sequer me passava pela cabeça que tudo iria mudar, e saberia então o quão difícil é estar viva. Hoje, cresci. Tornei-me adulta. Penso que só o percebi quando alguém mo pronunciou várias vezes ao ouvido. Tudo mudou. Percebo agora que já não posso tapar os ouvidos e fazer de conta que o mundo encantado com que eu sonhava em pequena um dia vai ser meu. Vivo, aqui e agora, no mundo real. Aquele de que todos querem, em algum momento, fugir.

SG.

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