quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Viagem a Itália - Parte I (Verona)

Viajar é das melhores coisas que a vida nos pode oferecer. Conhecer novos lugares, novas pessoas e novas culturas é enriquecer o nosso “eu”. Encher o peito com novos ares e dar à nossa memória novas e belas imagens é saber viver.

Hoje, vou falar-vos da minha viagem a Itália. Contarei a história desde o início, para que percebam a minha pequena (ou talvez grande) loucura.

Certo dia, a minha amiga Filipa mostrou-me um trabalho feito por si para a escola. Era sobre música e no vídeo apareciam essencialmente compositores contemporâneos. No meio de todas aquelas melodias, houve uma que me despertou a atenção. Era diferente de todas as outras. Chamava-se “Gabriel’s Oboe”. “De quem é?”, perguntei, consciente da minha ignorância. “É de Ennio Morricone, o compositor da banda sonora de um filme que assisti numa aula e adorei, A Missão. Aliás, esta música é desse filme…”, respondeu a Filipa.

Comecei a pesquisar na Internet as músicas do compositor italiano, a ver os filmes com as suas bandas sonoras e, tempos depois, comprei o dvd do seu concerto de dia 10 de Setembro de 2007, em Veneza. Chorei ao vê-lo e disse a mim própria que se um dia assistisse a um espectáculo seu morreria feliz. O destino quis oferecer-me esse privilégio. No site oficial de Ennio Morricone apareceu escrito em italiano “Concerto de Ennio Morricone, dia 11 de Setembro de 2010, na Arena de Verona – tributo ao cinema”. Liguei para a Cristina, a minha amiga música, e perguntei-lhe se não queria ir comigo a Itália em Setembro. Depressa me disse que sim e ainda mais depressa marquei passagem de avião, hotel e larguei 90 euros para o concerto na Arena.

A viagem foi no passado fim-de-semana. Partimos do Porto na Sexta-Feira de manhã, mas como o voo da Rayanair saiu uma hora depois da prevista, chegámos a Bergamo e fomos directos para a estação de comboios. Isto na esperança de arranjar um comboio que chegasse relativamente cedo a Verona. Com a pressa, o nosso almoço acabou por ser um Quebab...!

A mãe da Cristina estava certa. Os comboios italianos são muito confortáveis. Quando chegámos a Verona, fomos directamente para o hotel fazer o check-in. A recepcionista já estava à nossa espera e, mal me viu, exclamou: “Gonçalves!”. Chegámos tarde, é verdade.

Devo dizer que me apaixonei pelo hotel Verona assim que nele entrei. Com uma arquitectura moderna e situado num local central, era tudo o que eu, a Cristina e o André (que embarcou connosco na aventura) precisávamos para descansar depois de uma longa viagem. O nosso quarto ficava no último andar e tinha uma varanda com uma vista deslumbrante sobre a cidade.

Depois de um bom banho, saímos para jantar. Andámos poucos metros até chegar à maravilhosa Arena de Verona. Nessa mesma praça, havia muitos restaurantes com agradáveis esplanadas. Escolhemos um mais reservado e, claro, pedimos a bela da pizza italiana para satisfazer o nosso desejo. Como era de esperar, foi a melhor pizza que alguma vez comi!

Nessa mesma noite, ainda conseguimos dar umas voltas pela cidade e tomar um café na esplanada da Mercedes.

*

Sábado, o grande dia do concerto, começou com um maravilhoso pequeno-almoço no nosso tão estimado hotel. Depois da refeição, pegámos em três bicicletas que a recepcionista nos disponibilizou e partimos à descoberta de Verona.

Começámos por uma paragem no castelo. Tirámos imensas fotografias ao rio que o circundava, bem como aos quadros, esculturas e outras obras de arte que se encontravam expostas dentro do museu. Antes de almoço, ainda tivemos tempo para ir a uma casa de música para que a Cristina pudesse comprar partituras.

À tarde, visitámos a famosa casa de Julieta. Como era Sábado, havia uma imensidão de gente a fazer fila para entrar e para tirar fotografias com a estátua do amor de Romeu. Achei piada ao facto de ela ter um seio de fora e de todos os homens tirarem uma fotografia com a mão em cima dele. Rimos imenso com a situação!

Cumpri o que prometera depois de assistir ao filme “Letters from Julliete” e lá deixei a minha carta. Quase não coube na caixa do correio tal era a quantidade de folhas que lá se encontravam!

Antes de continuar o nosso percurso, parámos numa geladaria para provar os tão elogiados gelados italianos. E deliciámo-nos!

Já com pouco tempo, decidimos visitar o Teatro Romano em vez da tomba de Julieta. Foi uma boa escolha. Além do teatro, as ruínas romanas tinham uma capela e um museu muito bonito. Já para não falar da vista sob a cidade, que dali ainda conseguia ser mais deslumbrante!

No final da tarde, visitámos uma igreja onde tinha acabado de haver um casamento. Na entrada podia ver-se uma colecção de Porsches estacionados em filinha...

Eram seis e pouco quando chegámos ao hotel e por volta das dezanove horas já estávamos vestidos e perfumados para o momento mais aguardado da viagem. Fomos directamente à Arena levantar os nossos bilhetes e optámos por jantar numa esplanada perto da mesma. O concerto era às vinte e uma horas, por isso tivemos tempo de saborear bem a nossa lasanha e a sobremesa, que era uma mistura de morangos, com chantilly, muesli e mel. Que delícia!

Faltavam vinte minutos para o concerto quando entrámos na Arena. Lembro-me de dizer à Cristina que estava, naquele preciso momento, a concretizar um dos meus grandes sonhos. Quando vi o palco, senti as pernas tremerem. O meu coração encheu-se de alegria perante todo o esplendor que me rodeava.

A Arena esgotou para assistir ao concerto de tributo ao cinema de Ennio Morricone. É difícil encontrar as palavras certas para descrever o entusiasmo daquela multidão que aplaudia de pé o grande senhor das bandas sonoras contemporâneas. A orquestra que o acompanhava era a de Roma, bem como o coro. Senti-me uma mulher cheia de sorte!

Foram várias as lágrimas que deixei cair ao longo do concerto, no entanto, em nenhuma música me senti tão emocionada como em “Gabriel’s Oboe”. Chorei tanto, tanto! Há muito que esta se tornou a música da minha vida. E ouvi-la tocada ao vivo foi… Único!

No final do concerto, a multidão levantou-se e encetou a bater com os pés e a gritar para que Morricone volta-se e tocasse mais uma música. Foi arrepiante! Aquele barulho, aquela emoção… O maestro não só voltou, como nos deu o prazer de ouvir mais duas melodias. Senti-me em paz comigo e com o mundo que me rodeava. A Cristina e o André também adoraram o concerto e agradeceram o facto de eu me ter lembrado de ir ali. Foi bom ouvir aquelas palavras.

Ainda conseguimos aproveitar mais um pouco da nossa última noite em Verona tomando um chá numa esplanada perto do hotel. Digo-vos com toda a sinceridade que a primeira coisa que me ocorreu assim que pus os pés naquela cidade foi: “era capaz de viver aqui”.


(continua)

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