quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Bom da Solidão

Ao longo da minha vida, tenho-me vindo a aperceber do medo que as pessoas sentem da solidão. Temem-na quase tanto como a morte. Porquê? Será que algum dia experimentaram o sabor de um momento a sós consigo mesmas? Deveriam fazê-lo. A solidão não é um sentimento mau, mas sim de pertença, pertença a uma só pessoa: “eu”. É irracional termos receio de nós próprios e, se temos, é porque não nos conhecemos. Se não nos conhecemos, então, precisamos de solidão. Eu-solidão, solidão-eu. Conhecimento. De nós. Do mundo.

Descobri-me.

Tive um dia mau, como tantos outros. Que fiz eu para tentar perceber aquela angústia que me corroía por dentro e me sufocava de tal forma que o ar parecia não mais querer entrar?

Desapareci.

Fugi do meu mundo e fui para perto do mar. Falei com ele para conseguir falar comigo própria. E consegui. Foi ao sentir toda aquela solidão que me apercebi de um pormenor que escapa à maioria: é nas pequenas coisas que está "aquilo-que-não-sabemos-bem-o-que-é" ("mas-que-julgamos-saber", acrescento). A felicidade. Respirei fundo, a água gelada molhou-me o corpo, o sol do fim do dia aqueceu-me o rosto. Senti o mundo inteiro.

E voltei a descobrir-me.


Sara Gonçalves

Santa Cruz, 6 de Julho de 2010, final de tarde.

5 comentários:

  1. Percebo-te (perfeitamente)!
    Preciso de solidão para viver em equilíbrio comigo mesmo (e com os outros) e dela não abdico!
    Percebo-te!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Cara amiga: ofereço-te o meu poema, que acabo de escrever, «Ao pé do mar», que podes ler no meu blog. Sem equívocos.

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