sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Até os Livros Envelhecem

Há uns dias, ocorreu-me plastificar os meus livros. Começo a ficar com uma colecção algo significativa e tenho a certeza que se a ideia me surgisse apenas daqui a uns meses o trabalho iria ser superior. Confesso que aproveito todas as ofertas da imprensa (ao preço que os jornais e as revistas estão, não sei se os volumes que se escondem no seu interior poderão realmente ser chamados de “oferta”, mas isso é outra questão), nunca resisto a uma boa feira do livro e, quando posso, acumulo mais uns pontos na Bertrand (talvez para o ano me ofereçam outra viagem à Turquia, a Istambul, quiçá!). Portanto, a minha pequena biblioteca vai crescendo cada vez mais, não diria de dia para dia, mas, pelo menos, de mês para mês.

Plastificar seria, de facto, uma excelente ideia. Não me iria sair, por certo, nada barato, mas seria uma forma de proteger os meus meninos e evitar possíveis acidentes (tenho um gato e descobri que ele tem um certo fascínio por levar à boca tudo o que lhe aparece à frente). Contudo, dei por mim a pensar na seguinte questão: será que envoltos em plástico, os meus livros teriam o mesmo encanto?

A resposta é um gigantesco «não». Definitivamente, N-Ã-O!

Tenho um professor que diz ter em casa milhares de livros. Eu acredito. Quando algum estudante ou colega de profissão necessita de uma obra, recorre-lhe de imediato. Por isso, é habitual ver o nosso docente entrar na sala de aula com a sua pasta numa das mãos e com dois ou três livros na outra (para emprestar a alguém, precisamente). Recordo-me de admirar aquelas capas velhas, quase soltas, talvez até com algum pó escondido. Uma ou outra vez, o meu professor abre um dos livros e aquele cheiro a sabedoria penetra as minhas narinas. Enche-se-me o peito de aconchego. Que sensação maravilhosa!

Não, os livros não foram feitos para ser plastificados, de todo. Eles apenas querem ser lidos, relidos, tocados inúmeras vezes pelas mesmas mãos, por mãos diferentes, cheirados, acariciados, amados. Querem ser eles mesmos. Anseiam respirar o mundo. São como nós. No fundo, apenas desejam a liberdade e, como bem sabeis, a liberdade é finita. Se todo o ser humano envelhece, por que razão haveria um livro de não envelhecer?

Quero construir uma biblioteca. Uma biblioteca com livros que abarquem todos os temas possíveis e imaginários; uma biblioteca que ganhe pó para eu poder, posteriormente, ter o prazer de a limpar; uma biblioteca que cheire, realmente, a biblioteca. Só assim terei o prazer de sentir a autenticidade das letras, que são, de resto, a minha vida.

Sara Gonçalves,

Torres Vedras – 18 de Agosto de 2011.

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