
«O cinema não me anda, definitivamente, a consolar», pensei. Olhei para o relógio. Faltavam cinco minutos para a meia-noite, isto é, para as lojas do centro comercial fecharem. Decidi entrar na Bertrand, mesmo sabendo que teria de dar uma vista de olhos rápida pelas estantes (detesto fazê-lo, mas houve, naquele momento, uma «força» qualquer que me puxou para dentro da livraria). Passei rapidamente pelas novidades, quedei-me uns três minutos em frente aos títulos de Filosofia e, por fim, quando me dirigia para a literatura traduzida, um livro caiu-me aos pés. Caiu. Assim. Não toquei, não mexi, não abanei. O livro simplesmente caiu. Peguei no dito, mirei a contracapa e qual não é o meu espanto quando, ao virá-lo, vejo o seguinte nome: «Irvin D. Yalom».
Para quem não conhece, Yalom é um escritor americano, formado em Psiquiatria (já escrevi um artigo sobre ele neste meu espaço: http://horizontedoser.blogspot.com/2010/02/irvin-d-yalom.html), autor dos best sellers Quando Nietzsche Chorou e A Cura de Schopenhauer. É também um dos meus grandes ídolos, um homem dotado de uma escrita terapêutica. Confesso que já andava a estranhar a sua ausência. Vergonhosamente, não sabia que estava para sair uma nova obra. Se soubesse, já a teria na minha prateleira há uns dias.
Curioso: quem diria que não iria ser eu a ir ter com um livro desejado (ainda que na altura não soubesse da existência do objeto desejado), mas o livro a vir ter comigo? Os caríssimos leitores podem dizer-me que foi apenas uma coincidência. Corroboro. É claro que foi! Contudo, também considero as coincidências merecedoras de atenção, principalmente as que são causadoras de um sorriso genuíno como o que há pouco se desenhou no meu rosto.
Moral da história: não encontrei consolo no cinema; vou, porém, encontra-lo - e afirmo isto quase apoditicamente - na literatura, em particular neste novo romance de Yalom intitulado A Psicologia do Amor, que me caiu aos pés numa noite que já nada de bom parecia prometer.
Sara Gonçalves
Torres Vedras, 14 de Outubro de 2011