sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Eu não sei o que é a saudade

Eu não sei o que é a saudade. Penso senti-la em todos os momentos, mas em todos eles não sei defini-la. Cada segundo respirável tem em si um vazio e um preenchimento. Transporta as memórias do passado, cheira saborosamente as experiências do futuro. Sou alegre para esconder o rosto da minha alma [seja lá ela o que for]; sou triste, porque não posso mentir ao meu coração. Eu não sei o que é a saudade, ainda que ela exista (ou eu pense que sim). Quantas e quantas vezes, digo sentir isso ou de alguém, ou de um lugar, ou de um momento? Quantas e quantas vezes, digo-o espontaneamente, como se soubesse na perfeição definir aquilo que dizem ser um sentimento que fica por aí e não tem mais explicação? Um sentimento é amar, não é sentir saudades do que se amou. Como poderei, então, saber o que é a saudade? Quando me interrogo sobre o porquê de estar assim, nostálgica, as imagens que os olhos do meu pensamento vêem são apenas e só as dos sorrisos que larguei pelos caminhos da vida. Logo, se o senso comum diz que a saudade é triste, está errado. Um sorriso nunca é de tristeza, mas sim de felicidade, [seja lá ela o que for]; mas as lágrimas, essas gotas de água que tanto tentamos prender no nosso corpo eternamente, quando deveríamos era deixá-las correr como o leito de um rio, podem ser o reflexo de algo muito bom que nos está a acontecer. Por isso, quando choro de saudade, choro todos os momentos que vivi e não aqueles que desejo viver. Os que desejo viver não existem. O que desejo viver não o-é. E assim é a saudade.

1 comentário:

  1. Acho que a nossa jovem autora e aprendiz de filósofa (no dizer de António Sérgio no seu clássico prefácio à tradução para a nossa língua do outro clássico livro de Bertrand Russell, «Os Problemas da Filosofia»)está em plena evolução.

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