quinta-feira, 24 de março de 2011

A Política do "blá, blá, blá"

Ontem, dia 23 de Março de 2011, mais um facto político deixou a sua rubrica no livro dos acontecimentos que ficam para a História do nosso país: o PEC IV foi chumbado, Sócrates demitiu-se e, se tínhamos um governo a desgovernar, temos, neste momento, o incansável desgovernar… e um governo que se pôs a andar! Portugal, que já estava embrenhado numa enorme crise económica e financeira, acabou de ganhar uma crise política – ou, melhor, deu-se o clímax de uma crise política que já estava presente - e na pior altura possível. As consequências vieram hoje, logo pela manhã: os juros da dívida pública dispararam, atingindo um novo recorde: aproximadamente 8,5 %. Nenhuma outra reacção se poderia esperar por parte dos mercados.

Ontem, a política portuguesa mostrou claramente que não consegue ir mais além de “blá, blá, blás”. Assistimos a uma AR recheada de senhores (que se intitulam políticos) com um único objectivo em mente: derrubar o governo. Tornaram as medidas de austeridade propostas em eufemismos de segundo plano e decidiram que o que havia a fazer de momento era tornar um lugar como a Assembleia da República – lugar que deveriam, no mínimo, respeitar - num campo de batalha execrável, com todas as atenções voltadas para o “quem” e não para o “como”. Foi triste ver tantas críticas negativas e zero propostas de resolução para os verdadeiros problemas. Aliás, no final da declaração de José Sócrates ao país, Passos Coelho e Paulo Portas corroboraram precisamente o que acabei de dizer: ambos fizeram um discurso com cheirinho a vitória; sem fundamento algum, uma vez que PSD e CDS (a coligação mais previsível) não têm, de todo, o lugar do PS garantido (entre uns e outro, como diz o povo, "venha o diabo e escolha!"). Muito menos quando, num dia, chumbam medidas de austeridade e, no seguinte, propõem o aumento do IVA. É o cúmulo do ridículo.

Haver eleições antecipadas é incomodativo (tanto a nível psicológico como a nível de custos). Porém, mais triste do que ir fora de tempo às urnas, é dirigirmo-nos a elas sem qualquer perspectiva num futuro promissor. Os portugueses não têm opção: ou escolhem incompetentes ou escolhem incompetentes. Ora, isto é tautológico. Devemos tentar perceber qual a causa de tanta incompetência.

Na minha opinião - que, obviamente, vale o que vale - o pior mal deste país reside na forma como as pessoas se educam. Todos os dias, assistimos à ascensão de pessoas sem um pingo de inteligência a cargos políticos importantes. Ter formação dá trabalho, já o prestígio “barato” é bom e não dá azias. Sugiro não a educação que Rousseau propôs no Emílio, rígida e sem contacto com o mundo social que nos rodeia, mas sim a aprendizagem de Filosofia, em particular de Filosofia Política (ler Maquiavel, Locke e tantos outros só fazia bem a esta gente!). Há que aprender a raciocinar para melhor saber argumentar e, por fim, dirigir um país. Temos de re-começar por algum lado. Sugiro a educação.

Sara Gonçalves

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