sexta-feira, 8 de abril de 2011

Meditando sobre o que Permanece

O filósofo pré-socrático Heraclito dizia que as águas que correm no mesmo rio nunca são as mesmas. António Sérgio acrescentou que, ainda que essas águas não sejam as mesmas, há sempre qualquer coisa que subsiste. É assim em qualquer relação entre seres humanos. Uma relação é sempre uma novidade e, ao mesmo tempo, uma estabilidade. A novidade vem num gesto, numa palavra. A estabilidade vem no saber reagir a esse novo gesto e a essa nova palavra.

O eu que sou é também a possibilidade do outro. O eu que sou vê-se como uma multiplicidade de imagens passadas que fazem de si aquele ser e não outro. O outro pensa-se com as imagens de um passado em comum. O comum permanece.

Deixemos que as águas do rio levem as tristezas. Que fiquem algumas pedras para nos lembrar que existem decisões erradas a partir das quais devemos sempre retirar uma lição de vida. E nademos na certeza do incerto. Se essa certeza subsiste e traz segurança, o incerto desequilibra o sistema. No entanto, sem ele não haveria descoberta. A uma vida sem descoberta chamamos vazio. Ninguém quer viver no vazio.


Sara Gonçalves

Sem comentários:

Enviar um comentário