segunda-feira, 13 de julho de 2009

A Experiência do Mundo

A experiência liga-se ao homem e ao mundo. O ser humano experiencia o mundo quando “recebe impressões desordenadas e heterogéneas” e, com elas, tem a possibilidade de “construir uma ordem”. Desde que aprendeu relacionar-se com o mundo em que habita que o faz, no entanto, não sempre da mesma forma. Por isso mesmo, podemos dividir a experiência humana em três modalidades: a experiência originária, a experiência tradicional e a experiência moderna. Entre as duas primeiras e a última podemos estabelecer uma diferença muito importante: é que tanto na originária como na tradicional, o homem relacionava-se com o mundo naturalmente, não pensava antes de fazer as coisas. Por exemplo, os artesãos tradicionais fabricavam os artefactos simplesmente porque sabiam que eles eram funcionais. Não pensavam em porque é que, de facto, o eram. Já na experiência moderna, os homens pensam antes de agir.
Para perceber esta e outras diferenças que marcam estas experiências, tomaremos como exemplos alguns textos. Começando pela “Torre de Babel”, é-nos dito que havia um conjunto de homens, que viviam no mesmo lugar e eram possuidores da mesma linguagem e que, tomando como objectivo o céu, quiseram edificar uma torre para lá conseguirem chegar (isto era, sem dúvida, um atentado à supremacia divina e, por isso, um indício de modernidade). No entanto, Deus impedi-os de a construírem, e fê-lo espalhando-os pelo mundo e tornando as suas línguas diferenciadas. Dificultou-lhes, portanto, a comunicação. Então, sem se aperceberam, aqueles homens só conseguiam alcançar o seu objectivo se conseguissem comunicar uns com os outros (está então aqui presente a ideia de que quando há uma comunicação incorrecta entre os homens, surgem problemas e estes não conseguem chegar a lado nenhum).
Em “Prometeu Agrilhoado”, também há um poder divino posto em causa mas, desta vez, é o de Zeus. Prometeu concede aos homens, algo que só deveria pertencer ao “rei dos deuses”, pois permitia-lhes serem detentores de poderes considerados apenas dignos de quem morava no céu. O fogo permitiu ao Homem aprender a cozinhar, a aquecer-se, a proteger-se, a iluminar-se… Esse poder considerado divino é posto na mão de seres humanos que, com isso, começaram a progredir, e por isso mesmo também há aqui um indício de modernidade: valores tradicionais são postos em causa.
Outro dos textos onde a ideia de modernidade já está presente é em "Antígona", uma deusa que, revoltada com o facto de um dos seus irmãos não poder ser sepultado por ordem de quem detinha o poder, tem a ousadia de enfrentar a lei dos homens e, tomando como partido o direito de sangue, a chamada "lei dos deuses", dá sepultura ao seu parente. Mas aqui, mais do que haver um vestígio moderno (uma mulher ir contra um homem, ainda para mais detentor do poder), há também um valor tradicional: o de respeitar a vontade dos deuses.
Com isto, conseguimos perceber que apesar de haver três experiências, a seguinte mais evoluída do que a anterior, naturalmente, não se dá uma ruptura total entre aquela que acaba e a que começa. Isto porque, tal como vimos, a experiência tradicional acarreta consigo alguns vestígios da originária e, por sua vez, a moderna tem vestígios da originária e da moderna que desde sempre permaneceram imutáveis, apesar de mais escondidos.

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