sábado, 22 de agosto de 2009

A ideia do eterno retorno em "Assim Falava Zaratustra"

Em Assim Falava Zaratustra, uma famosa obra do filósofo Nietzsche, Zaratustra propõe um desafio...
E se, algum dia ou noite, um demónio fosse atrás de si até à sua solidão mais solitária e lhe dissesse: "Esta vida, como agora a vive e a tem vivido, vai ter de a viver mais uma vez e inúmeras outras; e nada haverá de novo nela, mas cada dor e cada alegria, cada pensamento e cada suspiro, do mais pequenino pormenor aos momentos mais grandiosos, terão de regressar a si na exacta mesma sucessão e sequência - até esta aranha e este luar entre as árvores, e mesmo este preciso segundo até mesmo eu. A eterna ampulheta da existência é novamente virada ao contrário, uma e outra vez, e você com ela, sua partícula de poeira!"
Não se atiraria para o chão a ranger os dentes e a amaldiçoar o demónio que falasse assim? Ou já alguma vez experimentou um momento tão fabuloso que o teria levado a responder: "Quem fala assim é um deus, porque nunca ouvi nada tão divino." Se este pensamento tomasse conta de si nunca mais seria quem é, ou talvez o deprimisse de tal forma que acabaria esmagado por ele.
Esta é a primeira descrição do eterno retorno, proferida por um profeta envelhecido, mas muito sábio.

sábado, 15 de agosto de 2009

"Cinema Paraíso", de Ennio Morricone


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"Para ti", Mia Couto

"Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só olhar
amando de uma só vida."

Outubro 1981

Mia Couto, in Raiz de Orvalho e Outros Poemas

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

"A Metamorfose", de Kafka

A primeira vez que ouvi falar da obra A Metamorfose, de Franz Kafka (1883-1924), encontrava-me numa aula de Teorias da Comunicação, onde o tema em debate era a sociedade de hoje. A história deste livro, sintetizada pela professora, despertou-me a atenção e, como tal, decidi lê-lo nestas férias de Verão.

A Metamorfose começa assim: “Um dia de manhã, ao acordar dos seus sonhos inquietos, Gregor Samsa deu por si em cima da cama, transformado num insecto monstruoso.”

Quando contamos esta história a alguém, a primeira reacção das pessoas é dizer que ela é “pura estupidez”. No entanto, é ao lê-la (bem, sublinhe-se) que percebemos o seu conteúdo e, mais importante, a sua mensagem. O que Kafka faz é nada mais nada menos que tentar elucidar-nos acerca de alguns aspectos: em primeiro lugar, a situação da solidão humana. No fundo, não adianta estarmos sozinhos ou acompanhados, pois o nosso passado e as nossas experiências são únicos. Em segundo lugar, está patente uma certa fuga ao trabalho, à família, às responsabilidades… À sociedade. No entanto, depois da fuga, há um grande sofrimento que surge à medida que Gregor vai percebendo que, sendo diferente, já não consegue comunicar o que sente nem fazer com que os outros o oiçam. Depois de algumas pesquisas, percebi ainda que a obra tem também a ver, em muito, com a própria vida do autor, pois este, quando chegava a casa depois de mais um dia de trabalho cheio de rotinas burocráticas e burocratizantes, deitava-se no sofá da sala e comentava que se sentia como um grande insecto. Isto porque todo o seu dia era uma limitação ao uso de sua criatividade.
Assim sendo, concluímos que a obra retrata a condição humana oprimida e alienada pela sociedade moderna, sendo esta última, sistematicamente, uma subjugação da mente humana. A nossa liberdade é cada vez mais limitada e, quando percebemos que caímos na fatal rotina dos dias, tornamo-nos como um insecto que, devido às suas limitações, não se consegue pôr de pé.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Amar em Silêncio

Este poema é apenas e só
O silêncio que entre nós
Tão bem conseguimos suportar.
É igualmente as silenciosas palavras
Que docemente, tão docemente!, colhemos
E, a olharmo-nos, cantámos.
Este poema é apenas e só
O sentimento que nasceu dentro de nós
E nos fez em acolhedor silêncio amar
Este amor. Um Amor que guardámos nas estrelas
E com o silêncio eternizámos
Para com tão grande distância Viver.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A loucura

O mundo tem medo da loucura, porque o mundo não sabe o que é a loucura. Todos falam dela, mas ninguém a sabe explicar. O mundo rebaixa os loucos, porque nem sequer os tenta ouvir. São loucos! O mundo não sabe, o mundo não vê, o mundo não ouve nada que vá contra aquilo que ele próprio acha, porque é no seu achar que ele pensa ter razão. Na sua tão grande mediocridade, o mundo já chama loucura à diferença, quando loucura e diferença não são sinónimos. Para quase todas as pessoas, louco é aquele que prefere a dança ao futebol, as saídas à noite aos livros e a televisão ao teatro. Louco é aquele que ficou esquecido na estandardização da sociedade. A esses seres, cujos olhos estão envoltos numa enorme névoa, digo (se é que o meu eu minúsculo tem legitimidade para o fazer): todo o ser tem dentro de si um tanto ou quanto de loucura. Os corajosos mostram-na, tornando-se por isso pessoas autênticas; os cobardes escondem-na e, inconscientes da sua ignorância, não conseguem ver que a loucura saudável tem o seu quê de fantástico.

sábado, 8 de agosto de 2009

Sentada a ouvir Chopin

Sentada a ouvir Chopin
Avisto da janela um castelo dourado.
É ali que o Sol nasce a cada manhã
Só para ver meu triste Fado.

Todos os dias engano o meu Amor,
Dizendo vorazmente que já o esqueci
E que as lágrimas não são de dor…
Todos os dias me engano a mim.

A música embala a minha mente,
Mas não cura a colossal saudade
De um coração que ama tão fortemente
Sem poder fazê-lo em liberdade.

Penso em tudo e penso em nada,
Porque o meu nada é o tudo
Que me deixa aprisionada
Nas muralhas de um castelo inventado.

A cadeira vazia

Dói. Dói olhar para trás e ver que o passado já lá vai e nunca mais irá voltar. Quando somos crianças, não há cadeiras vazias. E mesmo que esteja uma à nossa frente, ela passa despercebida (ou então, se nos falar, pomos-lhe a nossa boneca de trapos em cima). A vida é bela e a descoberta mágica. Não há maldade, não há segundas intenções, não há sofrimento; apenas existe a magia de uma vida inteira à nossa espera, muitos sorrisos, vitórias, conquistas, amor, amigos e um Natal sempre perfeito. Só que esta inocência é limitada pelo relógio da existência. O crescimento põe-nos cara-a-cara com os obstáculos; a idade traz responsabilidade e como é difícil lidar com isso! É-nos permitido, então, ver outras coisas do mundo que até aí nos tinham sido escondidas, porque a nossa tão grande sensibilidade fazia-nos ter pesadelos durante o sono, em vez dos habituais sonhos com castelos, príncipes e princesas. Quem nos quer bem apenas pode tentar adiar o mal; mas ele anda sempre por aí e, um dia, acaba por nos amarrar. Os filmes que começamos a ver mostram-nos a realidade de outrora de onde emerge a crueldade dos homens; os livros que nos oferecem contam-nos histórias de homens derrotados pela vida; as músicas que ouvimos falam de amores perdidos; a ficção mistura-se com a realidade tornando estas cada vez mais uma e a mesma verdade. A verdade da vida, onde as cadeiras vazias já não se preenchem com bonecas de trapos, mas sim com as sombras de tudo aquilo que nos escapou por entre os dedos, dedos esses que com uma ganância hiperbólica esquecem-se de tocar no que de melhor há no mundo. Quando nos sentamos perante uma dessas cadeiras e pensamos em tudo isto, chegamos à conclusão de que a angústia é tão profunda que não há retorno. A esperança morre e nem a luz da lua cheia serve de consolo. Só pode haver fé num coração vivo e não naquele que bate por hábito. É quando permitimos que o nosso coração bata apenas por bater, que deixamos de viver e passamos antes a sobreviver. Viver é ser criança. Sobreviver é ser adulto.

Estava a jantar num restaurante com a minha família. Havia um enorme barulho de fundo, mas mesmo assim o silêncio que se encontrava na nossa mesa ouvia-se melhor. Um silêncio avassalador para aqueles que me olhavam sem saber o que dizer. Banhada pela habitual nostalgia, vi que à minha frente se encontrava uma cadeira vazia. E vazia permaneceu durante minutos, longos minutos que se tornaram em horas e longas horas que se tornaram em tempo indefinido. Neste momento, ainda lá está: intacta, oca, esperando pelo dia de amanhã. Mais um dia em que o meu coração baterá apenas por bater.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A Missão




Aconselho vivamente o visionamento deste filme. Além de contar com uma grande interpretação de Robert de Niro, baseia-se numa história verídica (ainda que nos custe a crer), tem paisagens sublimes da América do Sul e ainda uma banda sonora fantástica, deliciosa, arrebatadora. Quase sem palavras! Apesar de ser suspeita, pois sou uma enorme fã do compositor Ennio Morricone, só pela música vale a pena ver "A Missão".

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Demócrito e o brinquedo mais genial do mundo

"Demócrito concordava com seus predecessores ao afirmar que as transformações observáveis na natureza não significavam que algo se alterasse realmente. Admitiu, portanto, que tudo tinha de ser composto de elementos pequenos e invisíveis, eternos e imutáveis. Demócrito designava estas pequenas particulas de átomos.
O termo “átomo” significa “indivisível”. Para Demócrito, era fundamental que aquilo a partir do qual tudo é formado não pode ser dividido em partes cada vez mais pequenas. Se os átomos pudessem ser constantemente divididos em partes cada vez mais pequenas, a natureza teria começado a fluir como uma sopa cada vez mais liquída.
Os elementos constitutivos da natureza tinham ainda de se conservar eternamente – porque nada pode nascer do nada. (…) Além disso, os átomos eram sólidos e compactos. Mas não podiam ser iguais. Porque se os átomos fossem iguais, não teríamos uma explicação válida para o facto de poderem ser combinados de modo a formarem tudo, desde papoilas e oliveiras a pele de cabra e cabelo humano.
(…)
Quando um corpo – por exemplo, uma árvore ou um animal – morre e entra em decomposição, os seus átomos dispersam-se e podem ser utilizados de novo em novos corpos. Os átomos movem-se no espaço vazio e agregam-se para formar as coisas que vemos à nossa volta.
E agora já percebes o que eu queria dizer com as peças do Lego? Elas possuem mais ou menos as propriedades que Demócrito atribuiu aos átomos, e precisamente por isso se pode construir tão bem com elas. Em primeiro lugar, são indivisiveis. São diferentes em forma e em tamanho, são sólidas e impenetráveis. Além disso, as peças do Lego têm “ganchos”, com os quais podem ser encaixadas umas nas outras; por isso podem ser transformadas em todas as figuras possíveis. Esta combinação pode ser mais tarde desfeita e depois construirem-se novos objectos a partir das mesmas peças.
E foi justamente o facto de poderem ser sempre usadas de novo que tornou o Lego tão popular. Uma e a mesma peça de Lego pode fazer hoje parte de um carro, e amanhã de um palácio. Além disso, é possível dizer que as peças do Lego são “imortais”. As crianças de hoje podem brincar com as mesmas peças com que os seus pais brincaram quando ainda eram pequenos."
(in O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder)

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O Estoicismo

Depois de uma leitura de "A Vida de Feliz", de Séneca, é fácil percebermos em que consiste o "Estoicismo". O Estoicismo é um sistema filosófico que surgiu no século III a.C. e teve como fundador Zenão de Cicio, um filósofo grego que aconselhava a indiferença e o desprezo pelos males físicos e morais. Além disso, é uma doutrina eclética que incorpora muitos conceitos de filósofos anteriores e contemporâneos: Heraclito, Platão, Aristóteles… A escola estóica contou também com influências do Epicurismo e do filósofo Sócrates.
A palavra “estóico” significa "aquele que revela fortaleza de ânimo e austeridade. É também imperturbável e insensível". Para os seguidores do Estoicismo, todo o universo é governado por um logos (razão universal). A alma está identificada com este princípio divino, como parte de um todo ao qual pertence. Este ordena todas as coisas, portanto, tudo surge a partir dele e de acordo com ele, sendo o mundo, por isso, um kosmos (termo que em grego significa "harmonia"). A partir disto deve-se viver conforme a natureza (esta é o logos), vivendo-se, por isso, de acordo com a razão. Assim, o homem torna-se livre e feliz não apreendendo o bem nos objectos externos, mas sim no seu interior. O homem sábio obedece à lei natural reconhecendo-se como uma peça na grande ordem e propósito do universo. Para os estóicos, o fim supremo e único bem do Homem é a virtude e o mal único e absoluto é o vício.
O Estoicismo luta, portanto, contra a emoção e a paixão (oriundos da irracionalidade e, por isso, contrários à doutrina), de onde deriva o desejo, o vício e a dor. "Vês que triste e funesta servidão sofrerá o homem que for possuído, alternadamente, pelos mais caprichosos e tirânicos dos senhores, os prazeres e as dores". (Séneca, A Vida Feliz, Definição da verdadeira felicidade (5)).

domingo, 2 de agosto de 2009

Portugal

Portugal, um país que é preciso viver profundamente para compreender.

Portugal é um bonito nome que dá nome a um bonito país. No ocidente da Europa, somos detentores de uma costa rica, banhados por um oceano gigante de nome Atlântico, e por um mar quente chamado Mediterrâneo. Conquistámos tudo quanto nos foi possível conquistar, mas a falta de organização e a demência do poder adormeceram a nossa glória. Hoje, somos um ponto no mapa do mundo tão insignificante para os de fora que há quem refira Portugal como uma região de Espanha. Dói ouvir barbaridades de quem nada conhece, simplesmente porque nunca nos soubemos dar a conhecer. Resta lembrar um passado por muitos esquecido, viver um presente demente e esperar por um futuro utópico. Mas, ainda assim, o nosso espírito patriótico faz-nos amar Portugal com todos os seus defeitos - os mais difíceis de amar - e todas as suas qualidades. Somos sonhadores, simpáticos, acolhedores. Vivemos num pequeno paraíso (apesar de alguns ainda não o terem descoberto) onde a natureza encontra a cultura, e a cultura brota das gentes dotadas de saberes e fazeres únicos. O nosso clima permite-nos cheirar os aromas de todas as estações e a nossa gastronomia, variada nos seus sabores, faz os turistas admirarem a nossa cozinha. O vinho do Porto põe-nos a viajar pelo Douro; ao som do corridinho dançamos na praia; temos ainda a proeza de ter um Jardim que fala, e fala bem! Somos assim, eternos sonhadores, esperando sempre e ansiosamente que D. Sebastião regresse no seu cavalo branco e conquiste o Quinto Império, um Império civilizacional e cultural, onde a Língua Portuguesa seria (será) o mais importante.

sábado, 1 de agosto de 2009

Dorian Gray

Um filme baseado no famoso livro da autoria de Oscar Wilde, "O Retrato de Dorian Gray". Estreia a 9 de Setembro.