Dói. Dói olhar para trás e ver que o passado já lá vai e nunca mais irá voltar. Quando somos crianças, não há cadeiras vazias. E mesmo que esteja uma à nossa frente, ela passa despercebida (ou então, se nos falar, pomos-lhe a nossa boneca de trapos em cima). A vida é bela e a descoberta mágica. Não há maldade, não há segundas intenções, não há sofrimento; apenas existe a magia de uma vida inteira à nossa espera, muitos sorrisos, vitórias, conquistas, amor, amigos e um Natal sempre perfeito. Só que esta inocência é limitada pelo relógio da existência. O crescimento põe-nos cara-a-cara com os obstáculos; a idade traz responsabilidade e como é difícil lidar com isso! É-nos permitido, então, ver outras coisas do mundo que até aí nos tinham sido escondidas, porque a nossa tão grande sensibilidade fazia-nos ter pesadelos durante o sono, em vez dos habituais sonhos com castelos, príncipes e princesas. Quem nos quer bem apenas pode tentar adiar o mal; mas ele anda sempre por aí e, um dia, acaba por nos amarrar. Os filmes que começamos a ver mostram-nos a realidade de outrora de onde emerge a crueldade dos homens; os livros que nos oferecem contam-nos histórias de homens derrotados pela vida; as músicas que ouvimos falam de amores perdidos; a ficção mistura-se com a realidade tornando estas cada vez mais uma e a mesma verdade. A verdade da vida, onde as cadeiras vazias já não se preenchem com bonecas de trapos, mas sim com as sombras de tudo aquilo que nos escapou por entre os dedos, dedos esses que com uma ganância hiperbólica esquecem-se de tocar no que de melhor há no mundo. Quando nos sentamos perante uma dessas cadeiras e pensamos em tudo isto, chegamos à conclusão de que a angústia é tão profunda que não há retorno. A esperança morre e nem a luz da lua cheia serve de consolo. Só pode haver fé num coração vivo e não naquele que bate por hábito. É quando permitimos que o nosso coração bata apenas por bater, que deixamos de viver e passamos antes a sobreviver. Viver é ser criança. Sobreviver é ser adulto.
Estava a jantar num restaurante com a minha família. Havia um enorme barulho de fundo, mas mesmo assim o silêncio que se encontrava na nossa mesa ouvia-se melhor. Um silêncio avassalador para aqueles que me olhavam sem saber o que dizer. Banhada pela habitual nostalgia, vi que à minha frente se encontrava uma cadeira vazia. E vazia permaneceu durante minutos, longos minutos que se tornaram em horas e longas horas que se tornaram em tempo indefinido. Neste momento, ainda lá está: intacta, oca, esperando pelo dia de amanhã. Mais um dia em que o meu coração baterá apenas por bater.
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