
Como apaixonada pela sétima arte, não poderia deixar de fazer a minha antevisão dos Óscares da Academia de Hollywood.
Pela primeira vez num ano, consegui ver todos os filmes que estão nomeados para a categoria de “melhor filme” (prometi a mim própria que o faria para conseguir ser mais justa nas minhas críticas). Note-se que os dez títulos que a Academia nomeou desta vez arrecadaram mais de 1300 milhões de dólares só no mercado americano*, tendo sido Toy Story 3 o grande campeão de vendas de bilheteira.
Começo por enumerar desde logo três candidatos que mereciam arrecadar o Óscar: O Cisne Negro, O Discurso do Rei e A Origem. O primeiro pela forma brilhante como nos prende ao grande ecrã e nos faz, por vezes, suster a respiração; o segundo pelo seu todo elegante e por toda a coerência com que é conduzido; o terceiro pela inteligência com que se apresentou. Infelizmente, tanto o Cisne Negro como A Origem não parecem estar tão bem classificados na corrida como A Rede Social, a minha maior desilusão. Sinceramente, não percebo o grande aparato que envolve o filme de David Fincher (talvez a explicação se encontre mesmo no realizador conceituado ou no próprio vício do Facebook) que me fez, por mais do que uma vez, fechar os olhos. Acho-o verdadeiramente aborrecido. Contudo, reconheço que Finsher é o mais certo vencedor do Óscar de melhor realização e também a estatueta de melhor argumento adaptado deverá seguir por esta via.
Justiça seja feita, ainda que a estatueta seja entregue ao O Discurso do Rei (que poderá ser prejudicado por ser um filme totalmente inglês e não americano) ou siga para A Rede Social, não posso passar sem aplaudir O Indomável e 127 Horas. O primeiro representa tudo aquilo a que os irmãos Cohen já nos habituaram. O segundo surpreendeu-me pela positiva: não deve ser fácil prender a atenção do espectador quando o cenário é um buraco onde se encontra um homem preso a uma pedra durante 127 horas. Portanto, parabéns Danny Boyle. Destaque ainda para o brilhante papel de James Franco que, ainda assim, não chega à sublime interpretação de Colin Firth como Jorge VI de Inglaterra. Jeff Bridges (vencedor do Óscar de “melhor actor principal” no ano passado) não deverá arrecadar a estatueta mas, se tal suceder, também é merecido.
Não falei até agora de alguns filmes também nomeados, como Despojos de Inverno (o pior dos dez - representa uma América rural profundamente triste e cinzenta, que nada mais oferece do que um estado de espírito profundamente depressivo), Os Miúdos Estão Bem (uma boa história, mas não boa o suficiente para chegar sequer ao pódio) e The Fighter – O último round (Million Dollar Baby, do mesmo género, ganhou o Óscar; porém, este filme nem lhe chega “aos calcanhares”!). Sobre Toy Story 3 não há muito a dizer: vai ganhar o Óscar de melhor filme de animação e com muito, muito mérito.
Natalie Portman vai, com certeza, subir ao palco para erguer o Óscar de “melhor actriz principal”. Gosto de surpresas, mas aqui prefiro pensar que, pelo menos nesta categoria, irá acontecer o esperado, uma vez que a candidata mais forte a seguir a Portman é Annette Bening por Os Miúdos Estão Bem, que está mais do que farta de ver o seu talento reconhecido. Honestamente, se não vencer a bailarina de O Cisne Negro, prefiro que vença (sem grandes probabilidades de isso acontecer) Michelle Williams com a sua brilhante prestação em Blue Valentine – Só Tu e Eu (que é, aliás, a única coisa boa deste filme deveras deprimente).
Na categoria de “melhor actor secundário” estão na linha da frente Christian Bale (The Fighter) e Geoffrey Rush (O Discurso do Rei). Espero que ganhe o último. Vê-lo contracenar com Firth foi absolutamente delicioso! Quanto ao lado feminino, Helena Bonham Carter será uma justa vencedora deste Óscar (mais até do que Melissa Leo por The Fighter). Ainda assim, é importante não deixar passar em branco a interpretação de Hailee Steinfeld em O Indomável (uma rapariga de 14 anos que tenta fazer de tudo para vingar a morte do pai). A jovem consegue estabelecer uma enorme empatia com Jeff Bridges e Matt Damon (que não está nomeado para nenhuma categoria; no entanto, teve duas excelentes prestações – uma em O Indomável e a outra em Outra Vida).
Quanto àquela que é, de resto, uma das minhas categorias favoritas, lamento não ver a banda sonora de O Indomável como uma das candidatas ao Óscar. A meu ver, é a melhor de todas. Ainda assim, A Origem (de Hans Zimmer, um dos meus compositores favoritos), O Discurso do Rei (de Alexandre Desplat), A Rede Social (de Trent Reznor e Atticus Ross) e 127 Horas (de A. R. Rahman) são fortes e justos candidatos. Relativamente à “melhor canção original”, muito provavelmente irá vencer qualquer uma dos filmes de animação nomeados.
Não me sinto habilitada para falar de qualquer uma das outras categorias (lamento ainda não ter visto Biutiful com o grandiosíssimo Javier Bardem – do qual fiquei fã assim que vi pela primeira vez Mar Adentro -, nomeado para melhor filme estrangeiro).
Termino a minha crítica ansiosa que o relógio marque uma hora da manhã e na expectativa de que esta gala dos Óscares seja melhor – muito melhor, aliás – do que a do ano anterior. James Franco e Anne Hathaway, dotados de um grande carisma próprio de um bom actor/actriz, irão fazer por isso.
Sara Gonçalves
*Informação retirada da Actual do semanário Expresso de 26 de Fevereiro de 2011.