Não me conformo com essas palavras
Que sussurras ao meu ouvido,
São aluviões de desejos não-realizáveis,
São sentimentos não-saciados,
Nomes que não correspondem
A qualquer realidade do agora
Ou a qualquer possibilidade
De um amanhã possível.
Mundo que dorme na insensatez
Da moralidade há muito desfeita,
Que se abraça a bem-pareceres
E cessa numa intragável comodez
Que assombra qualquer alma
Que não quer - mas que se conforma,
Vitória a toda esta hipocrisia mundana
Que nos separa com sua tão grande robustez!
Acordar num hoje solarengo,
Sem lugar à lobreguidão do ontem,
Viver a verdade escondida,
Minha querida e doce esperança!
Até pode o amanhã não ser possível,
Mas há um lugar onde o posso imaginar:
Dentro de mim; só tu e eu,
Sem bem-pareceres nem comodez,
Dentro de mim somos nós,
Lugar onde morrem as palavras,
Lugar onde se limpam os choros
Lugar onde nasce o maior dos sorrisos.
Este eu e tu que somos nós
Permanecerá mudo até ao dia
Em que o impossível virá possível
E os sussurros de outrora
Pronunciar-se-ão em voz alta,
Num grito estridoroso e culminante,
Num concretizar desta doce esperança
Que vive ininterruptamente no meu coração.
Sara Gonçalves
Braga, 22 de Fevereiro de 2011.
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