domingo, 13 de fevereiro de 2011

E-book, não me cheiras!

Já ninguém consegue parar a evolução das novas tecnologias no mundo desenvolvido. Lidar com telemóveis, computadores, projectores e afins já deixou há muito de ser uma opção. Tal facto acarreta consigo vantagens – como o maior acesso à informação e a aproximação dos vários povos e culturas - e desvantagens - nomeadamente no que toca a questões de foro ambiental. Por vezes, o crescimento deste universo electrónico é tão fugaz que habituamo-nos a lidar com o progresso sem reflectir sobre ele. O que é, obviamente, um erro.

Há dias, li um artigo num jornal sobre o livro electrónico, mais conhecido por e-book - um livro digital que pode ser lido em computadores ou até mesmo em telemóveis. Os seus formatos mais comuns são o PDF e o HTML (o primeiro apenas requer o leitor de arquivos Acrobat Reader para ser aberto, no entanto, o último precisa de um navegador da Internet).

A Wikipédia [http://pt.wikipedia.org/wiki/Livro_digital] apresenta algumas vantagens deste engenho, tais como: a sua portabilidade (são facilmente transportados em disquetes, cd-roms, pen-drives e cartões de memória); o preço (como o seu custo de produção e de entrega é inferior, um livro digital de alto padrão pode chegar às mãos de um leitor por um preço até 80% mais baixo que um livro impresso, quando não for, imagine-se!, gratuito); existem também softwares capazes de ler estes livros em tempo real, sem sotaques robotizados, convertendo assim um maravilhoso e-book num ainda mais maravilhoso audiobook!

Todos os atributos atrás enunciados são, admitamos, no mínimo, interessantes (lamento apenas o facto de não se terem lembrado do mais importante de todos, o único que eu colocaria na lista das vantagens do aparelho: menos papel significa menos árvores cortadas; contudo, é bom não esquecer que o e-book não deixa de ter os seus inconvenientes ambientais). Agora pergunto, com todos estes in, por que razão a população letrada tem-se mostrado tão pouco entusiasmada com o livro electrónico? Bom, felizmente ainda há fulanos casmurros que gostam do que é tradicional, preocupando-se mais com os prazeres simples do que com as modernices vistosas.

A meu ver, todo o ser humano deveria apoquentar-se, acima de tudo, com o seu bem-estar, aproveitando pequenos momentos que, não sendo mais do que isso mesmo – momentos – transmitem uma certa dose de gozo, que tantas e tantas vezes nos faz falta para melhor suportar a sufocante rotina diária. Dentro desses pequenos instantes, destaco um: ler um livro. Um livro a sério.

Confesso que tenho grandes dificuldades em ler textos que, por vezes, me enviam para o e-mail. Quando chego à página número cinco ou seis já sinto a vista tão cansada que a vontade de continuar a descoberta perde-se por completo. E, se não imprimir esse texto, o mais provável é pô-lo logo de parte. O desejo de aprender morreu na praia.

Se fizesse uma lista com um dos melhores aromas do mundo, colocaria nela o cheiro de um livro, aquele aroma de papel que conforta qualquer alma solitária! Como poderíamos senti-lo com um e-book? Houve um espertinho – não me recordo agora do nome do senhor – que inventou um autocolante que se cola no aparelho e faculta o mesmo cheiro de um livro em papel. De facto, a ideia foi de génio. Infelizmente para o idiota, não funciona. Ainda há muito boa gente que tem sítios melhores onde gastar o dinheiro (pensavam que o autocalante-maravilha era gratuito, não?), principalmente em tempos de crise!

Não me venham com cantigas: não há nada comparável a carregar um livro connosco numa viagem (lembro-me que sentia um enorme prazer ao ver tantas pessoas com livros na mão no metro de Lisboa, todos os dias, quando ia para a universidade) e pegar nele quando nos apetece sem ter de ligar aparelhos que, por vezes, dão dores de cabeça. Contemplar a sua capa e a sua contra-capa, tocá-lo, cheirá-lo, pô-lo junto ao peito, amá-lo. Um quarto sem livros não é quarto tal como uma cidade sem biblioteca não é cidade. O mundo sem um livro de papel não é mundo.

Não, e-book, definitivamente, não me cheiras!

Sara Gonçalves

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